No próximo dia 21 de dezembro de 2021 se inicia o verão e, com ele, é preciso falar sobre a importância da “vitamina do sol”, a vitamina D. Apesar do nome, a vitamina D não se trata de uma vitamina, mas sim de um pró-hormônio, uma vez que difere das vitaminas tradicionais, as quais devem ser adquiridas através da alimentação. A vitamina D pode ser sintetizada pelo próprio organismo [1], por meio de uma reação fotossintética desencadeada pela exposição da pele à luz solar [2].
Existem duas classificações para a vitamina D: a primeira é a vitamina D2 (ergocalciferol), de origem vegetal, encontrada em fungos, como cogumelos e leveduras. Já a segunda é a vitamina D3 (colecalciferol), produzida no tecido animal pela ação da luz ultravioleta na pele, e podendo ser adquirida também por meio da ingestão de alguns poucos alimentos de origem animal, como óleo de fígado de peixe, alguns tipos de peixe como sardinha, salmão e atum [1]. Estima-se que, em humanos, 80 a 90% da vitamina D corpórea seja adquirida pela síntese cutânea, e o restante pela ingestão de alimentos que contenham esta vitamina, ou seja, a vitamina D3 é a que possui a maior absorção pelo organismo, sendo a mais recomendada para suplementação [2].
A vitamina D regula a expressão de mais de 200 genes e seus receptores podem ser encontrados na maioria dos tecidos e células humanas, permitindo que essa vitamina exerça influência em diversos processos fisiológicos [1, 3]. O principal deles é a regulação da homeostase do cálcio e do fósforo, fundamental para metabolismo ósseo e promoção de um esqueleto saudável [1]. Em paralelo, a vitamina D possui forte ação no sistema imunológico, com receptores em diferentes células imunes, como linfócitos, macrófagos e células dendríticas [4].
A deficiência ou insuficiência de vitamina D está relacionada a uma série de doenças autoimunes e inflamatórias, como diabetes mellitus, esclerose múltipla, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e doença inflamatória intestinal [1, 4, 5], além de doenças ósseas, como raquitismo, osteomalácia e osteoporose [1]. A adequada concentração sérica desta vitamina é muito importante para todos os estágios da vida, desde o desenvolvimento fetal até a senescência.
Por exemplo, a deficiência de vitamina D na infância pode resultar em retardo do crescimento e fragilidade óssea, além de ser um fator de risco para o desenvolvimento de asma e doenças do trato respiratório superior [6]. Em gestantes, a deficiência ou insuficiência está relacionada à pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer [7-11].
Diante das doenças associadas, a deficiência e a insuficiência de vitamina D podem ser consideradas um importante problema de saúde pública [12], afetando, atualmente, mais de 1 bilhão de indivíduos ao redor do mundo [13]. Inicialmente, acreditava-se que a população de países ensolarados e de menor latitude, como o Brasil, não apresentasse deficiência de vitamina D, mas não é bem assim. Uma metanálise avaliou as concentrações médias dessa vitamina em indivíduos de diferentes faixas etárias no Brasil e observou prevalências de insuficiência e de deficiência de 45,3% e 28,2%, respectivamente [14].
Portanto, como prevenir a deficiência de vitamina D? Tomar sol é suficiente? Vários elementos podem influenciar a concentração sérica da 25(OH)D, especialmente fatores que afetam a sua síntese cutânea, como idade, concentração de melanina na pele, estação do ano, latitude, altitude, condições do tempo, hora do dia, vestuário, uso de filtro solar e poluição atmosférica [1, 15]. Por exemplo, pessoas com 70 anos de idade têm apenas 25% da capacidade de produção de vitamina D, comparadas a pessoas de 20 anos. Afrodescendentes precisam passar de 5 a 10 vezes mais tempo expostos ao sol do que caucasianos para obter a mesma quantidade de vitamina D [5].
Também temos os fatores nutricionais (ingestão de alimentos ricos em vitamina D ou suplementos), os fatores que afetam a absorção intestinal de vitamina D (síndrome de má absorção intestinal, doença inflamatória intestinal), os fatores que afetam o metabolismo da vitamina D no fígado (insuficiência hepática, uso de corticosteróides), e o excesso de gordura corporal [1, 15].
Dessa forma, a suplementação de vitamina D é uma maneira segura, eficaz e prática de manter níveis adequados de vitamina D. Procure um médico ou nutricionista antes de iniciar a suplementação para que seja indicada a melhor dosagem, de acordo com a faixa etária e status de vitamina D sérica pré-existente. A deficiência de vitamina D no organismo também pode ser reconhecida através de alguns sinais e sintomas como redução dos níveis de cálcio e fósforo no sangue, cansaço, enfraquecimento dos ossos e fraqueza muscular, portanto, ao sentir esses sintomas procure orientação profissional.
Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD
Referências
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