Já existe o consenso de que a nutrição materna inadequada pode desencadear vários transtornos à saúde dos descendentes. O desequilíbrio nutricional durante períodos críticos de formação e de desenvolvimento, como, por exemplo, o da gestação, pode predispor, inclusive, a doenças na idade adulta.
 

Assim, a gestação é reconhecida como um período vulnerável durante o qual a saúde da mãe e do bebê merecem grande atenção!
 

Embora os efeitos da desnutrição (refletida pelo baixo peso em consequência à inadequada ingestão de macronutrientes – proteínas, carboidratos e lipídeos) nos resultados da gravidez sejam bem documentados no mundo, existe um problema significativo de saúde pública que, muitas vezes, é mais difícil de detectar: a deficiência de micronutrientes.
 

O consumo adequado de nutrientes durante a gestação é imprescindível para o desenvolvimento normal da prole. A deficiência de vários micronutrientes foi associada a processos inflamatórios associados ao baixo peso ao nascer, ao parto prematuro (< 37 semanas de gestação) e à pré-eclâmpsia.

 

Mas o que é pré-eclampsia?
 

A pré-eclâmpsia é um transtorno multissistêmico da gravidez que tem, como mais conhecidas, as seguintes manifestações: aumento da pressão arterial e a presença de proteína na urina após 20 semanas de gestação. A pré-eclâmpsia afeta de 2% a 8% de todas as gravidezes e é uma das principais causas de mortalidade e morbidade materna e perinatal (período compreendido da 28ª semana de gestação até os primeiros sete dias depois do parto).

 

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima que, pelo menos, 30% das gestantes sofrem de anemia por deficiência de ferro e que há uma maior probabilidade dessas mulheres terem bebês de baixo peso (< 2500 g) e em parto prematuro.

 

Brasil, Amarante e Oliveira (2017), a partir de estudo de revisão sistemática da literatura, concluíram que a suplementação da dieta materna com ácido fólico durante a gestação, além de prevenir contra os conhecidos defeitos do tubo neural, traz benefícios em condições adversas, como consumo de álcool e privação de proteína. Exerce também efeito protetor, evitando alterações epigenéticas deletérias no fígado da prole, o que poderia desencadear muitas doenças na vida adulta. Além de ser necessário durante a gravidez, o ácido fólico  melhora  as defesas celulares e,  a suplementação com essa vitamina em doses recomendadas  não causa efeitos tóxicos.
 

Certo! Já é bem difundido e aceito o fato de que a suplementação com ferro e ácido fólico é benéfica e faz parte das prescrições durante o período pré-natal. Mas há outros nutrientes que podem trazer benefícios se forem recebidos, nesse período, como suplementos?
 

A deficiência de cálcio e de vitamina D durante a gravidez pode causar múltiplos problemas de saúde às mães e aos bebês, entre os quais metabolismo ósseo anormal e depressão materna pós-natal. Além do efeito clássico sobre a mineralização óssea e absorção de cálcio, a vitamina D desempenha um papel crítico na modulação do sistema imune. Sugere-se que a vitamina D pode ajudar a regular as respostas inflamatórias maternas ao feto. Uma associação entre a deficiência materna de vitamina D e a pré-eclâmpsia grave tem sido relatada, no entanto, os achados têm sido inconsistentes e nem todos os estudos detectaram essa associação.
 

A vitamina B12 é uma vitamina com papéis metabólicos muito relacionados ao folato e à homocisteína e é encontrada apenas em alimentos derivados de animais. É importante para a síntese do DNA e também  para a produção de energia na célula. Ragne e colaboradores (2017) verificaram a associação da deficiência de vitamina B12 a um risco aumentado de baixo peso ao nascer e de parto prematuro.
 

McAlpine e colaboradores (2016) concluíram, em sua pesquisa, que a duração da gestação tem associação com práticas de suplementação de micronutrientes. Eles verificaram que gestantes que não tomaram suplementos tiveram gestações mais curtas do que aquelas que usaram uma combinação multivitamínica e mais um micronutriente (seja ferro, ácido fólico ou zinco). Esses autores apontam que o terceiro trimestre da gravidez é conhecido como um estado inflamatório controlado, adequadamente, pelo organismo nos casos de gravidez normal.
 

O que acontece é que há uma regulação das respostas inflamatórias sistêmicas, necessárias para as alterações cervicais e o aparecimento espontâneo do trabalho de parto. Em outras palavras: se a resposta inflamatória for aumentada, por exemplo, pela deficiência de um micronutriente, como o ácido fólico, o ferro ou o zinco, o parto pode acontecer prematuramente. Por outro lado, acredita-se que, se esses micronutrientes estiverem em excesso, eles podem agir suprimindo os processos inflamatórios naturais e necessários para o trabalho de parto espontâneo e contribuir para o aumento do comprimento gestacional, gerando a necessidade de indução do trabalho de parto.
 

O cobre, o zinco e o selênio também têm sido apontados como minerais extremamente importantes durante a gestação, pois, além de possuírem funções únicas no metabolismo, eles colaboram com o ferro e o ácido fólico nas funções que desempenham no organismo.
 

Outro ponto que se tem sugerido, nos tempos atuais, é a suplementação com micro-organismos vivos, que seriam, diretamente, benéficos para a flora intestinal e, indiretamente, para o metabolismo de micronutrientes. Wickens e colaboradores (2017), por exemplo, avaliaram a suplementação com Lactobacillus rhamnosus HN001 em mulheres com 14 a 16 semanas de gestação. Os autores verificaram que esse tipo de suplemento foi capaz de reduzir a prevalência de diabetes gestacional, particularmente entre mulheres mais velhas e com história de diabetes gestacional anterior.
 

No decorrer do tempo, muito se tem estudado e aprendido sobre a suplementação na gestação, apesar de existirem, ainda, muitas lacunas a serem fechadas. É importante ressaltar a necessidade de equilíbrio na suplementação dos nutrientes durante a gestação, pois tanto a carência quanto o excesso podem comprometer o evolução saudável da gravidez, seja para a mãe  seja para o bebê. Dessa forma, é sempre importante ter o acompanhamento de profissionais de saúde capacitados que promovam um atendimento adequado e individualizado.
 

 

 

Referências Bibliográficas:
 

BRASIL, F. B. AMARANTE, L. H.; OLIVEIRA, M. R. O consumo materno de ácido fólico durante a gestação e seus efeitos a longo prazo no fígado da prole: uma revisão sistemática. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., v.17, n.1, p. 17-25, 2017.

MCALPINE, J. M. et al. The association between third trimester multivitamin/mineral supplements and gestational length in uncomplicated pregnancies. Women and Birth, v. 29, n. 1, p. 41-6, 2016.

MORAES, M. L. et al. Elementos traço e complicações obstétricas na gestação na adolescência. Rev. Nutr., v. 23, n. 4, p. 621-8, 2010.

ROGNE, T. et al. Maternal vitamin B12 in pregnancy and risk of preterm birth and low birth weight: A systematic review and individual participant data meta-analysis. Am J Epidemiol., v. 185, n. 3, p. 212-23. 2017.

WICKENS, K. L. Early pregnancy probiotic supplementation with Lactobacillus rhamnosus HN001 may reduce the prevalence of gestational diabetes mellitus: a randomised controlled trial. Br J Nutr., v. 117, n. 6, p. 804-13, 2017.

ZHAO, X. et al. Maternal vitamin D status in the late second trimester and the risk of severe preeclampsia in Southeastern China. Nutrients, v. 9, n. 2, p. 138, 2017.

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