A anemia é um importante problema de saúde pública em todo o mundo, sendo a deficiência de ferro a sua principal causa e respondendo por cerca de 50% dos casos da doença. Essencialmente, a anemia ferropriva é desenvolvida quando a absorção de ferro a partir da dieta não é suficiente para compensar as necessidades do organismo ou as perdas desse nutriente.

De acordo com uma estimativa realizada em 2011 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a anemia afeta cerca de 800 milhões de mulheres e crianças em todo mundo. Em particular para as crianças, a taxa de prevalência dessa complicação é ordem de 42,6%. No Brasil, por sua vez, estudos têm demonstrado que cerca de 24% das crianças são anêmicas.

A anemia ferropriva na infância pode causar danos que comprometem o desenvolvimento normal da criança, incluindo dificuldades de aprendizagem da linguagem, distúrbios psicológicos e comportamentais, falha no sistema imunológico e até agravamento de doenças infecciosas.

Na maior parte dos casos, a melhor opção para o tratamento da anemia é via oral, sendo a suplementação com sulfato ferroso uma das práticas clínicas mais comuns. No entanto, este composto apresenta como desvantagem a ocorrência de alguns efeitos adversos tais como: sabor metálico na boca e complicações no trato gastrointestinal, o que compromete a terapia devido à baixa adesão dos pacientes.

A fim de controlar os efeitos colaterais típicos da suplementação de ferro, outros compostos podem ser utilizados. Dentre eles, o ferro bisglicinato quelato tem se mostrado excelente opção, dada sua melhor tolerabilidade, menor incidência de efeitos adversos e maior biodisponibilidade em comparação aos sais de ferro.

Neste contexto, um estudo demonstrou aumento significativo nos níveis de hemoglobina em crianças anêmicas após a suplementação com ferro bisglicinato quelato. Além disso, não foi observada complicação no trato gastrointestinal ou intolerância ao suplemento durante o período de intervenção, garantindo adesão, continuidade e eficácia do tratamento. Outro resultado relevante foi o ganho de estatura das crianças que receberam o suplemento, o que indica que a suplementação pode ser benéfica inclusive para crianças no estado nutricional adequado.

O ferro bisglicinato quelato também se mostrou eficaz na fortificação de bebida láctea achocolatada. Durante três meses, 157 crianças de 3 a 6 anos consumiram 200mL da bebida fortificada com ferro quelato. Após a suplementação, foi observado um aumento significativo nos níveis de hemoglobina, ferritina e eritrócitos. Além disso, os participantes e responsáveis não relataram efeitos colaterais ou queixas referentes ao consumo da bebida fortificada.

Dessa forma, o tratamento da anemia ferropriva com o ferro bisglicinato quelato pode ser considerada uma estratégia mais efetiva e segura comparado a outros sais de ferro. De fato, este composto é mais rapidamente absorvido pelo organismo, possui uma melhor biodisponibilidade e maior aceitação, já que não ocasiona sintomas indesejados.

 

 
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: volume 3 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 604 p.
Vieira RCS, Ferreira HS. Prevalência de anemia em crianças brasileiras, segundo diferentes cenários epidemiológicos. Rev. Nutr. 2010; 23 (3): 433-444.
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Ribeiro LC, Sigulem DM. Tratamento da anemia ferropriva com ferro quelato glicinato e crescimento de crianças na primeira infância. Rev. Nutr. 2008; 21 (5): 783-490.
Rodrigues JEFG, Pineda O, Sanchez JG. Efetividade do ferro bis-glicina quelato em achocolatado no controle da deficiência de ferro em pré-escolares.Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. 2006; 31 (1): 43-52.

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