A diarreia é um problema grave de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento. Esta afecção é a principal causa de mortalidade e morbidade infantil durante os primeiros anos de vida, sendo que aproximadamente 1 em cada 5 mortes de crianças e um total de 1,5 milhões de mortes anualmente estão relacionadas à diarreia. A má nutrição é um dos principais fatores de risco para a diarreia, que justifica a alta taxa de mortalidade em crianças desnutridas.
A diarreia se caracteriza pela alteração do ritmo intestinal, provocando evacuações frequentes e fezes líquidas. O seu início geralmente é abrupto e pode ocasionar desidratação, dor de barriga, vômito e febre.
As viroses são as causas mais frequentes de diarreia, com maior incidência no verão. Em alguns casos, a diarreia também pode ser causada por bactérias que provocam intoxicação alimentar. Em relação aos vírus, a principal forma de transmissão é pela contaminação por meio das mãos sujas ou pelo ar.
Estudos recentes apontaram que a diarreia também é um sintoma frequente em pacientes com COVID-19, inclusive em crianças infectadas. A análise de dados dos pacientes da província de Hubei, na China, mostrou que até 79% desses pacientes apresentaram sintomas gastrointestinais, como a diarreia, no início da doença ou após a hospitalização. Em alguns pacientes, a diarreia foi o único sintoma apresentado e esses pacientes tiveram piores prognósticos.
É importante que os pacientes com diarreia sejam hidratados para repor os líquidos perdidos, preferencialmente por via oral com soluções que contenham água, sal e açúcar. Em casos mais graves, pode ser necessária a reposição de fluidos por via intravenosa.
Outra medida importante é o tratamento com zinco. A suplementação deste mineral por 10 a 14 dias é recomendada pela Organização Mundial da Saúde e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para todas as crianças durante e depois do episódio de diarreia, o que reduz a sua duração e gravidade. Outro benefício desta suplementação é a redução do risco de novos episódios de diarreia nos 2 a 3 meses seguintes e diminuição do risco de mortalidade por todas as causas em até 5 anos.
O Ministério da Saúde também recomenda que o zinco seja administrado para crianças com diarreia uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias, na dose de 10 mg para crianças de até seis meses de idade e 20 mg para maiores de seis meses de idade
O zinco atua diretamente sobre os microrganismos que causam diarreia e melhora a função intestinal levando à redução do risco desta afecção. Outra importante ação do zinco é atuar na maturação e ativação de células imunológicas, sendo, portanto, essencial para as respostas imunes que combatem os agentes causadores da diarreia.
Vale ressaltar que a deficiência de zinco, que afeta cerca de um terço da população mundial, pode ser agravada pela diarreia e outras doenças intestinais devido à má-absorção e perda do mineral nos fluídos.
Os efeitos positivos do zinco em crianças com diarreia foram confirmados por muitos estudos clínicos, inclusive por um estudo recente (2018) com duração de dois anos conduzido pelo Dr. Suman Chirla em um hospital na Índia. Nesse estudo, dentre 100 crianças de até 5 anos de idade com diarreia, as que receberam zinco tiveram menor tempo de internação hospitalar: enquanto as crianças não suplementadas permaneceram em média 5,34 dias internadas, as tratadas com zinco permaneceram cerca de 3,35 dias. Além disso, o zinco também reduziu o número de episódios subsequentes de diarreia.
Um outro estudo Colombiano da pesquisadora Juliana Sánchez concluiu que o zinco aminoácido quelato tem um melhor efeito na redução da incidência de diarreia e infecção respiratória aguda em comparação ao tratamento com sulfato de zinco ou placebo, além de resultar na menor incidência de efeitos colaterais em crianças pré-escolares. Dessa forma, este estudo confirmou a superioridade do zinco na forma de quelato no tratamento da diarreia infantil
Em linhas gerais, o zinco atua por diversos mecanismos no combate à diarreia e na manutenção da função imunológica adequada. A suplementação com o zinco aminoácido quelato é recomendada devido à sua maior absorção e redução ou ausência de efeitos adversos.
Referências
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