Já está bem consolidado na comunidade médica e na população em geral, que o estado nutricional da mulher no período periconcepcional, ou seja, antes da mulher engravidar, e principalmente durante a gestação, afeta diretamente a saúde e o desenvolvimento do bebê. Contudo, o que é pouco divulgado é que a condição nutricional do homem também tem influência direta na saúde da criança em desenvolvimento, com consequências que podem perdurar na fase adulta e, até mesmo, nas gerações posteriores [1, 2].

 

As campanhas de saúde reprodutiva costumam negligenciar o papel do pai durante o planejamento da gestação, concentrando-se apenas em melhorar a saúde da mulher, enquanto o pai recebe pouca ou nenhuma recomendação específica sobre mudanças nos seus hábitos alimentares e estilo de vida. Apesar disso, um crescente número de evidências demonstra que o fator masculino é relevante e que um bom status nutricional no período periconcepcional pode otimizar significativamente não só a saúde do bebê, como os próprios desfechos da gestação [1].

 

Apesar dos mecanismos envolvidos neste processo ainda não serem totalmente compreendidos, evidências emergentes sugerem que os efeitos deletérios causados na prole são consequência da herança epigenética transgeracional, transferidos do pai ao filho por meio do epigenoma do esperma [3].

 

A nutrição é um pilar fundamental para o funcionamento adequado dos processos genéticos e epigenéticos durante o desenvolvimento humano [10]. A quantidade e qualidade corretas de nutrientes podem determinar a “programação” do indivíduo em formação em relação à predisposição ao desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes e síndrome metabólica [4].

 

Dessa forma, o cuidado nutricional do pai também deve ser motivo de atenção. A suplementação paterna com determinados nutrientes no período periconcepcional pode auxiliar desde a produção de gametas saudáveis ao crescimento adequado do bebê, como é o caso do zinco e do folato, nutrientes vitais para a reprodução humana.

 

O zinco é um mineral essencial que desempenha papel fundamental nos processos biológicos, incluindo reações de mais de 300 enzimas [5]. Dado seu papel como antioxidante, a relação entre a deficiência de zinco e a infertilidade masculina tem sido reconhecida pela comunidade médica mundial e investigada como tratamento adjuvante [6].

 

Neste contexto, Colagar et al. (2009) compararam os níveis de zinco no líquido seminal de homens férteis e inférteis, e observaram que o nível de zinco no plasma seminal dos indivíduos inférteis foi significativamente menor que o observado no controle (homens férteis) [7]. Ao passo que a suplementação com zinco em 97 homens inférteis, durante um período de três meses, apresentou maior contagem espermática e menor porcentagem de espermatozoides não móveis, quando comparados aos indivíduos do grupo placebo. Além disso, a taxa de gravidez das parceiras entre os indivíduos tratados foi de 22,5% (n=11), enquanto apenas 4,2% (n=2) do grupo placebo atingiu a gravidez [8].

 

Já o folato, vitamina pertencente ao complexo B, apresenta papel primordial na síntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA) e no metabolismo dos aminoácidos, processos fundamentais da formação de espermatozoides [9]. Estudos em animais e humanos indicam que a deficiência de folato está correlacionada com a diminuição da concentração de espermatozoides [10], além de alterar o epigenoma do esperma, o que pode acarretar em resultados adversos na gravidez, como redução da taxa de sucesso, perda pós-implantação e distúrbios placentários [11].

 

Os estudos também mostram que, assim como acontece com a deficiência materna de folato, uma baixa ingestão paternal dessa vitamina está associada a uma frequência maior de anormalidades de desenvolvimento, como malformações craniofaciais, defeitos nos membros e, ainda, atraso no desenvolvimento muscular e/ou esquelético [11]. Em paralelo, ensaios clínicos randomizados relataram que a suplementação com folato melhorou significativamente os parâmetros seminais de indivíduos varicocelectomizados [12] e subférteis [13].

 

Portanto, a manutenção de níveis adequados de vitaminas e minerais na saúde paterna é tão crucial quanto a da mãe, devendo ser levada em consideração na hora do planejamento familiar. Mais pesquisas devem ser feitas em humanos a fim de fornecer aos pais recomendações dietéticas ideais, assim como a divulgação de sua importância.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD

 

 

Referências
1.    Dimofski P., Meyre D., Dreumont N., Leininger-Muller B. Nutrients. 2021;13(8). 2.    Rando O.J., Simmons R.A. Cell. 2015;161(1):93-105. 3.    Dunford A.R., Sangster J.M. Diabetes Metab Syndr. 2017;11 Suppl 2:S655-S662. 4.    Langley-Evans S.C. J Hum Nutr Diet. 2015;28 Suppl 1:1-14. 5.    Yanagisawa H. Yakugaku Zasshi. 2008;128(3):333-339. 6.    World Health Organization. Geneva: World Health Organization. 2010;5th ed. 7.    Colagar A.H., Marzony E.T., Chaichi M.J. Nutr Res. 2009;29(2):82-88. 8.    Omu A.E., Dashti H., Al-Othman S. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 1998;79(2):179-184. 9.    Wong W.Y., Merkus H.M., Thomas C.M., Menkveld R., et al. Fertil Steril. 2002;77(3):491-498. 10.  Wagner H., Cheng J.W., Ko E.Y. Arab J Urol. 2018;16(1):35-43. 11.  Lambrot R., Xu C., Saint-Phar S., Chountalos G., et al. Nat Commun. 2013;4:2889. 12.  Azizollahi G., Azizollahi S., Babaei H., Kianinejad M., et al. J Assist Reprod Genet. 2013;30(4):593-599. 13.  Ebisch I.M., Pierik F.H., FH D.E.J., Thomas C.M., et al. Int J Androl. 2006;29(2):339-345.

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