Você provavelmente ainda não conhece, mas já deve ter sentido alguns sintomas da chamada síndrome do cérebro pandêmico. Não se trata de uma condição clínica, mas sim de um fenômeno que pesquisadores têm notado após o período de pandemia, será que você se identifica com alguns desses comportamentos? Maior dificuldade em manter a concentração e o foco, em alternar entre tarefas, e em ser proativo, além de falhas na memória de curto prazo e oscilações de humor [1-3].

 

As pesquisas recentes indicam que a pandemia da COVID-19 deixou sequelas em toda a população, mesmo naqueles que não tenham se contaminado com o vírus. Isso se deve ao fato de que o longo período de confinamento, assim como o estresse crônico aos quais a população foi exposta nos últimos meses, têm afetado significativamente a saúde cognitiva e mental e, de acordo com as novas evidências, até mesmo a estrutura da massa encefálica [2, 4].

 

O estresse crônico pode resultar no aumento do status inflamatório, na morte de células cerebrais e até mesmo no encolhimento do córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pela tomada de decisões, elaboração do pensamento e planejamento de, devido à liberação contínua e excessiva de cortisol [4]. O cortisol é um hormônio que atua, dentre outras funções, auxiliando o organismo na resposta ao estresse. Contudo, altos níveis e exposição por tempo prolongado a esse hormônio são prejudiciais para o cérebro. Em 2018, por exemplo, a Academia Americana de Neurologia reportou que altos níveis de cortisol estão associados a uma pior memória e percepção visual, assim como a volumes mais baixos de massa cinzenta total, occipital e do lobo frontal [5].

 

Da mesma forma, resultados preliminares de uma pesquisa conduzida no Reino Unido, pela universidade de Cambridge, identificaram que pessoas expostas ao isolamento social e à solidão apresentavam mudanças de volume nas regiões temporal, frontal, occipital e subcortical do cérebro, assim como na amígdala e no hipocampo [2]. A perda de volume nessas áreas pode ser seriamente prejudicial a atividades como armazenamento de memória e aprendizado, realizadas pelo hipocampo, e ao nosso comportamento emocional, coordenado pela amígdala [6, 7].

 

Mas há uma boa notícia, o cérebro pandêmico é reversível. De acordo com Mike Yassa, diretor do centro de Neurobiologia da Universidade da Califórnia, essa deterioração mental é temporária, ainda que leve algum tempo até que volte ao normal [1]. Afinal, o cérebro é um órgão em constante aprendizado, devido às suas capacidades de plasticidade e reparação neuronal.

 

Diante de tudo isso, como podemos acelerar o processo de recuperação do cérebro pandêmico? De acordo com especialistas, há vários meios. A prática de atividades físicas e caminhadas, meditação, e até mesmo ouvir música, são bons hábitos a serem adotados [1]. Além disso, o retorno ao convívio social, de forma segura, também é uma excelente estratégia terapêutica para o cérebro pandêmico.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD

 

 

Referências

  1. Korducki K.M. 2021; https://www.theguardian.com/us-news/2021/jun/24/pandemic-brain-covid-coronavirus-fog-concentrate. Accessed 22/11/2021.
  2. Cueto J.C. 2021; https://www.bbc.com/portuguese/geral-57983533. Accessed 22/11/2021.
  3. da Silva Castanheira K., Sharp M., Otto A.R. PLOS ONE. 2021;16(11):e0260061.
  4. Brusaferri L., Alshelh Z., Martins D., Kim M., et al. medRxiv. 2021:2021.2009.2021.21263740.
  5. Echouffo-Tcheugui J.B., Conner S.C., Himali J.J., Maillard P., et al. Neurology. 2018;91(21):e1961-e1970.
  6. Opitz B. Front Neurol Neurosci. 2014;34:51-59.
  7. Sah P. Neuron. 2017;96(1):1-2.

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