A obesidade e o sobrepeso infantil são uma epidemia global e grandes problemas de saúde pública, que acarretam consequências tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. No Brasil, as estimativas do Ministério da Saúde são de que cerca de 6,4 milhões de crianças estejam com sobrepeso e 3,1 milhões já evoluíram para o quadro de obesidade 1. Os números, que já são alarmantes, preocupam ainda mais as organizações de saúde visto que este problema está sendo detectado cada vez mais cedo na infância. Para se ter uma ideia, estes mesmos dados identificaram uma maior prevalência de excesso de peso entre crianças de até 2 anos (23%), seguida pelas crianças de 2 a 3 anos (20,4%) 1.

 

Tanto o sobrepeso quanto a obesidade são fatores de risco críticos para o desenvolvimento de uma série de comorbidades como diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e redução do tempo e qualidade de vida. Quando tais condições se iniciam na infância, a probabilidade da criança se tornar um adulto obeso e um jovem com diversas comorbidades é significativamente mais alta.

 

Nesse sentido, a identificação de variáveis relacionadas a essa condição é fundamental para promover a prevenção e o tratamento adequado do processo de ganho de peso, onde o sono tem sido implicado como um deles.

 

O sono é um importante modulador da saúde, e na obesidade, diversos estudos epidemiológicos têm demonstrado uma associação entre a curta duração e baixa qualidade do sono com o aumento do tecido adiposo e da circunferência abdominal, e por consequência, do desenvolvimento de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes 2, 3.

 

Evidências mais recentes têm demonstrado, ainda, que a hora de dormir também faz diferença 4. O hábito de dormir/acordar tarde e o social jetlag (definido como a diferença na hora de dormir entre dias da semana e finais de semana), têm sido sugeridos como fatores de risco para desenvolvimento de obesidade em crianças e adolescentes, independente da duração do sono 4, com um risco de 1,5 vezes maior 5. Estudos têm demonstrado que crianças que dormem mais tarde apresentam maior ganho de peso, ingestão calórica, tempo de tela (período na frente de telas digitais), e menor realização de atividade física 3, 6, 7. Essa correlação foi apontada por estudos que identificaram uma prevalência significativamente mais alta do hábito de dormir/acordar tarde em crianças obesas, quando comparada a crianças saudáveis 4.

 

Os mecanismos de ação envolvidos nesta associação sono-obesidade ainda estão sendo estudados, mas sugere-se que a privação do sono está associada a um desequilíbrio energético ocasionado por alterações nos hormônios do apetite, como a grelina e a leptina, gerando um aumento da ingestão calórica, além de proporcionar uma janela maior de tempo disponível para se alimentar 8. Sabe-se também que pessoas em privação de sono apresentam uma queda na temperatura corporal, e esta queda acarreta diminuição do gasto energético. Por fim, o sono profundo tem papel importante nos processos restauradores do corpo e do metabolismo energético, dessa forma, quando há privação, o organismo sofre prejuízos no balanço energético 9.

 

Conforme observado, o sono desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da obesidade, sendo um fator de risco facilmente modificável. O aumento da duração do sono, com hábitos de dormir/acordar rotineiros é capaz de diminuir o risco de ganho de peso. Lembrando sempre que a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável são indispensáveis para melhores desfechos na saúde.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

Referências

  1. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). 2022; https://abeso.org.br/obesidade-infantil-as-razoes-por-tras-do-aumento-de-peso-entre-as-criancas-brasileiras/.
  2. Wu Y., Gong Q., Zou Z., Li H., et al. Obes Res Clin Pract. 2017;11(2):140-150.
  3. Jarrin D.C., McGrath J.J., Drake C.L. Int J Obes (Lond). 2013;37(4):552-558.
  4. Skjakodegard H.F., Danielsen Y.S., Frisk B., Hystad S.W., et al. Pediatr Obes. 2021;16(1):e12698.
  5. Olds T.S., Maher C.A., Matricciani L. Sleep. 2011;34(10):1299-1307.
  6. Golley R.K., Maher C.A., Matricciani L., Olds T.S. Int J Obes (Lond). 2013;37(4):546-551.
  7. Stoner L., Castro N., Signal L., Skidmore P., et al. Child Obes. 2018;14(3):158-164.
  8. Van Cauter E., Knutson K.L. Eur J Endocrinol. 2008;159 Suppl 1:S59-66.
  9. Patel S.R., Hu F.B. Obesity (Silver Spring). 2008;16(3):643-653.

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