Não é de hoje que os pesquisadores têm observado o impacto direto da nutrição na saúde mental. Esta nova abordagem, da nutrição em psiquiatria, tem investigado o papel da dieta e da suplementação nutricional na melhora de transtornos do humor, em conjunto com os tratamentos convencionais, o que inclui o transtorno de ansiedade.

 

É justamente este conceito que a nova publicação da revista Dietetics aborda. Neste estudo de revisão, os autores sugerem que há uma associação inversa entre a ansiedade e os níveis séricos de minerais traços como o zinco, o ferro e o selênio 1.

 

A ansiedade é um transtorno mental caracterizado pelo medo e preocupação excessiva e persistente diante de situações cotidianas, gerando sentimentos de aflição e angústia 2. Apesar de tratar-se de um transtorno da mente, a ansiedade exibe sintomas físicos importantes, como elevação dos batimentos cardíacos, respiração acelerada, falta de ar, sudorese, entre outros 2.  Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 301 milhões de pessoas vivem com transtorno de ansiedade em todo o mundo, incluindo crianças e adolescentes, representando a nona causa de incapacidade relacionada à saúde 1.

 

Há evidências crescentes de que intervenções alimentares, seja na dieta ou através de nutrientes específicos, demonstram potencial para a prevenção ou tratamento da ansiedade. Os mecanismos biológicos pelos quais os nutrientes afetam a saúde mental não são completamente compreendidos, no entanto, sugere-se que estejam relacionadas ao seu papel na inflamação, no estresse oxidativo, além de efeitos na plasticidade cerebral, na disfunção mitocondrial e no metabolismo de neurotransmissores 1.

 

Minerais traços como zinco, ferro e selênio são cofatores para inúmeras enzimas e podem ter um papel nos mecanismos propostos relacionados à saúde cerebral e à ansiedade, conforme descrito pelos autores:

 

Ferro

A deficiência de ferro é a deficiência nutricional mais comum em todo o mundo, afetando principalmente crianças, adolescentes, mulheres em idade reprodutiva e gestantes. Baixos níveis de ferro, em indivíduos com ou sem anemia, são frequentemente associados a um maior risco de comportamento ansioso, com evidências mostrando uma correlação inversa entre o status de ferro e a gravidade da ansiedade e de sintomas depressivos 3, 4. De fato, indivíduos com anemia ferropriva apresentaram níveis mais altos de ansiedade em comparação com indivíduos saudáveis 1. Intervenções nutricionais com ferro não apenas foram eficazes na correção dos níveis de ferro e seus derivados (ferritina, hemoglobina), mas também tiveram um efeito ansiolítico significativo 5, 6. Além disso, foi proposto que os mecanismos de mudança de comportamento impactados pelo ferro incluam funções alteradas no hipocampo e no metabolismo de neurotransmissores 7.

 

Selênio

Uma das principais funções biológicas do selênio é a sua ação antioxidante, dessa forma, sua deficiência está associada ao maior dano oxidativo no organismo, uma das fisiopatologias sugeridas para o desenvolvimento da ansiedade 1. No geral, a maioria das evidências revela uma associação entre baixos níveis de selênio a sintomas de ansiedade, ao passo que a suplementação com esse mineral apresenta efeitos promissores no alívio dos sintomas 8, 9. Ao que parece, na maioria dos estudos, constata-se um aumento na capacidade antioxidante total e nos níveis de glutationa (proteína dependente do Se), sugerindo que o efeito do selênio na redução da ansiedade pode ser resultado da melhora da atividade antioxidante e na função otimizada das selenoproteínas 1.

 

Zinco

O zinco está envolvido na regulação de sistemas de neurotransmissores, atividade antioxidante, fatores neurotróficos e células neuronais 10. Diversos estudos já observaram a associação entre a deficiência de zinco e os sintomas de ansiedade, em diferentes grupos populacionais como adultos, crianças e adolescentes 11, 12. Por outro lado, a suplementação de zinco se mostrou eficaz em reduzir significativamente os sintomas de ansiedade e alterações no humor 13, 14. Por exemplo, em um dos estudos, pacientes com ansiedade apresentaram níveis séricos de zinco mais baixos em comparação com o grupo controle, antes da administração do tratamento. Após a suplementação de zinco, os sintomas de ansiedade foram reduzidos e o zinco sérico foi restaurado aos níveis normais 15.

 

Utilizando como base estudos clínicos previamente publicados, os autores concluíram que há evidências suficientes para sugerir a associação inversa entre a ansiedade e a deficiência de certos elementos traços como o zinco, ferro e selênio. A adequação através da dieta ou do uso de suplementos pode ser uma estratégia para a correção dessas deficiências minerais, e por consequência, da otimização da saúde mental 1.

 

Com base nas evidências atuais, cabe à comunidade médica considerar a intervenção nutricional como prática integrativa na hora de prescrever tratamentos e métodos preventivos para os transtornos mentais e seus sintomas, considerando a individualidade de cada paciente. Além disso, mais estudos devem ser realizados a fim de compreender melhor os mecanismos de ação envolvidos e sua eficácia.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

 

Referências

  1. Totten M.S., Davenport T.S., Edwards L.F., Howell J.M. Dietetics. 2023;2(1):83-103.
  2. Wong Q.J., Gregory B., McLellan L.F. Curr Psychiatry Rep. 2016;18(4):38.
  3. Doom J.R., Richards B., Caballero G., Delva J., et al. J Pediatr. 2018;195:199-205 e192.
  4. Abbas M., Gandy K., Salas R., Devaraj S., et al. Psychol Med. 2021:1-11.
  5. Vitale S.G., Fiore M., La Rosa V.L., Rapisarda A.M.C., et al. Int J Food Sci Nutr. 2022;73(2):221-229.
  6. Bastida G., Herrera-de Guise C., Algaba A., Ber Nieto Y., et al. Nutrients. 2021;13(6).
  7. Shah H.E., Bhawnani N., Ethirajulu A., Alkasabera A., et al. Cureus. 2021;13(9):e18138.
  8. Portnoy J., Wang J., Wang F., Um P., et al. J Pediatr Nurs. 2022;63:e121-e126.
  9. Jamilian M., Mansury S., Bahmani F., Heidar Z., et al. J Ovarian Res. 2018;11(1):80.
  10. Cominetti C., Cozzolino S.M.F. 2009.
  11. Tahmasebi K., Amani R., Nazari Z., Ahmadi K., et al. Biol Trace Elem Res. 2017;178(2):180-188.
  12. Hajianfar H., Mollaghasemi N., Tavakoly R., Campbell M.S., et al. Biol Trace Elem Res. 2021;199(5):1754-1761.
  13. Ahmadi M., Khansary S., Parsapour H., Alizamir A., et al. Biol Trace Elem Res. 2023;201(2):559-566.
  14. Hamedifard Z., Farrokhian A., Reiner Z., Bahmani F., et al. Lipids Health Dis. 2020;19(1):112.
  15. Russo A.J. Nutr Metab Insights. 2011;4:1-5.

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