A colina é um nutriente essencial que participa de várias funções biológicas vitais, com papéis-chave no desenvolvimento fetal.
O interesse pela ação da colina durante a gestação ganhou impulso quando se constatou que, durante esse período, a placenta e o feto têm grande necessidade desse nutriente.A mãe fornece grandes quantidades de colina para o feto através da placenta; as concentrações de colina no sangue do cordão fetal são 3-5 vezes maiores do que as que se encontram na circulação materna. E, após o nascimento, mediante o leite materno, podem ser fornecidas grandes quantidades de colina para a criança.
A ingestão adequada de colina tem se mostrado importante para o fígado materno, para a função placentária e os resultados fetais adequados quanto ao desenvolvimento físico e cerebral.
A colina é precursora de diversos compostos fundamentais ao bom funcionamento do organismo.
Em bioquímica, o termo “precursor” é usado para referir-se a um composto que precede outro numa via metabólica. |
Os compostos que têm a colina como precursora são:
– fosfatidilcolina, que é um componente principal das lipoproteínas em circulação (o que a torna importante para o transporte de gorduras) e da bile além de ser componente de todas as membranas celulares;
– esfingomielina, que tem papel essencial na mielinização dos axônios e, portanto, na formação adequada do sistema cerebral;
– betaína, que está diretamente relacionada à criação e manutenção do epigenoma fetal;
– acetilcolina, um neurotransmissor importante, que é essencial para a organização e para a função do cérebro em desenvolvimento, por meio dos seus efeitos sobre a neurogênese e a formação de sinapses.
Ressalta-se, ainda, que o metabolismo de colina está intimamente relacionado com o metabolismo de vitaminas do complexo B e da metionina (um aminoácido essencial).
As fontes de colina
Os seres humanos têm capacidade de formar novas moléculas de colina, principalmente no fígado. A outra única fonte de colina é a dieta.
Na dieta, a colina pode ser obtida com a ingestão de alimentos de origem vegetal e de origem animal, porém alimentos de origem animal contêm mais colina por grama quando comparados aos vegetais. O leite, ovos e a carne são alimentos considerados boas fontes de colina.
A capacidade extra para a produção de colina no fígado, durante a gestação, é, provavelmente, necessária, porque a gravidez gera grandes exigências sobre as reservas maternas.A colina é transportada ativamente pela placenta e atinge concentrações muito mais elevadas em tecidos fetais do que no sangue materno.
Depois de a criança nascer, o aleitamento aumenta ainda mais as exigências sobre as reservas maternas de colina, pois esse nutriente é passado para o leite em concentrações elevadas.
As mulheres grávidas beneficiam-se de uma melhoria da produção endógena de colina induzida pelo estrogênio, que aumenta durante a gestação. Entretanto, acredita-se que elas ainda dependam de fontes alimentares para atender às demandas de colina durante a gravidez e a lactação.
A baixa ingestão de colina tem sido associada, principalmente, ao desenvolvimento de fígado gorduroso/esteatose, de defeitos do tubo neural e de fissura orofacial nos bebês.
O fígado gorduroso, que se desenvolve devido à deficiência de colina, está relacionado com a síntese de lipoproteínas. As lipoproteínas são necessárias para embalar os triglicerídeos no fígado, e a fosfatidilcolina é um componente necessário para essa função. Assim, quando não está disponível, triglicerídeos acumulam-se no fígado. Além disso, acredita-se que as células hepáticas morrem quando privadas de colina, pois ocorrem danos nas mitocôndrias e a liberação de radicais livres, que resultam na morte celular por apoptose.
Atualmente acredita-se que mulheres em dieta com baixo teor de colina têm maior risco de ter um bebê com defeito do tubo neural ou fissura orofacial. Nos Estados Unidos, nas mulheres com dietas de baixo teor de colina, o risco de de ter um bebê com defeito do tubo neural é 4 vezes maior ou com fissura orofacial é 1,7 vezes maior.
Tem sido sugerido que a suplementação com colina extra na dieta materna, durante a gravidez, pode influenciar beneficamente vários processos fisiológicos na prole e melhorar a saúde dos descendentes. Sugere-se, por exemplo, que essa suplementação pode melhorar a função cognitiva e diminuir os riscos de desenvolver doenças crônicas.
O mecanismo pelo qual a colina extra, durante a gravidez, exerce seus efeitos no desenvolvimento e saúde dos filhos é complexo e, provavelmente, envolve muitos fatores, incluindo a sinalização da acetilcolina, a disponibilidade de fosfolipídios e modificações epigenéticas. Considerando que modificações epigenéticas e mudanças na expressão genética no desenvolvimento precoce podem persistir até a idade adulta, a suplementação de colina materna pode ser uma estratégia nutricional para melhorar a saúde ao longo da vida da criança.
Atualmente, os suplementos vitamínicos pré-natais não contêm uma fonte adequada de colina. Para as mulheres que não incluem em sua dieta leite, carne, ovos ou outros alimentos ricos em colina, é prudente que a suplementação da dieta seja considerada, o que deve ser discutido sempre com o profissional de saúde.
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