Que o cálcio é um mineral fundamental para a saúde óssea todo mundo já sabe, mas você sabia que este mineral também influencia diretamente a saúde dos dentes e as taxas de perda dentária?
O cálcio é o mineral mais abundante no corpo humano e equivale a cerca de 1-2% do peso corporal 1. Seu principal reservatório são os dentes e ossos, onde aproximadamente 99% desse mineral são encontrados, o 1% restante circula através da corrente sanguínea onde atua em diferentes funções metabólicas como a divisão celular, a contração dos músculos, a secreção de hormônios e a coagulação sanguínea 1.
Quando a ingestão de cálcio é insuficiente, o organismo retira o cálcio do seu reservatório (ossos e dentes) para atender as funções nas quais ele é indispensável, o que acarreta na desmineralização do esqueleto e na aceleração do processo de perda óssea sistêmica que ocorre naturalmente como consequência do envelhecimento e da diminuição dos níveis hormonais, como a menopausa2.
Para se ter uma ideia, a população brasileira consome, em média, cerca de 430 mg/dia 3 de cálcio, valor abaixo da ingestão diária recomendada para esse mineral que é de 1000 mg/dia para adultos 4, ou seja, a ingestão insuficiente de cálcio é bastante comum.
Mas onde entram os dentes nessa história? O cálcio é responsável pela formação e mineralização dos dentes e pela fixação dente-osso, tanto em casos de crescimento de novos dentes (infância), como nos casos de implante dentário 5, 6. Em casos de deficiência, é possível observar prejuízos na mineralização do esmalte, gerando dentes com imperfeições e pouca resistência ao esforço mastigatório, além de aumentar a suscetibilidade a cáries 5, 6.
Além dos benefícios diretos na saúde dos dentes, os ossos alveolar e da mandíbula, responsáveis por dar o suporte aos dentes, são prejudicados na deficiência do cálcio, visto que eles também são acometidos pela desmineralização óssea, ocasionando, assim, a queda dos dentes 7, 8. De fato, a perda dentária está intimamente associada à baixa densidade mineral óssea (DMO), conforme corroborado por pesquisas que identificaram que pessoas com quadros de osteopenia e osteoporose apresentam uma maior incidência de problemas dentários 9.
De fato, os estudos demonstram que o aumento da ingestão de cálcio está associado a redução e/ou atraso da perda da densidade mineral óssea 10, 11, com efeitos positivos na redução da perda dentária e da reabsorção do osso alveolar, e no aumento da mineralização óssea 6.
Um desses estudos verificou que a suplementação conjunta de cálcio e vitamina D, durante um período de três anos, diminui a incidência de perda de um ou vários dentes para 13% no grupo que recebeu a intervenção, quando comparado a um grupo que não recebeu a suplementação e apresentou uma taxa de perda de 27% 12.
De forma semelhante, mulheres na pós menopausa foram acompanhadas durante um período de 7 anos, e foi constatado uma correlação entre a perda dentária e a perda óssea dessas mulheres 13. Por exemplo, para cada decréscimo da DMO corpórea (1% ao ano) observou-se aumento de risco de perda dentária em mais de quatro vezes 13.
Com base nos achados, sugere-se que a redução da perda da DMO pode, simultaneamente, diminuir a perda óssea oral e assim promover a retenção dentária. Dessa forma, a suplementação com cálcio, como um complemento à dieta, é uma maneira eficaz e segura de manter níveis adequados desse mineral no organismo, evitando a perda óssea sistêmica, e prevenindo, assim, os desfechos negativos associados a sua deficiência.
Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.
Referências
- ILSI. Funções plenamente reconhecidas de nutrientes. 2018;Volume 1.
- Reinwald S., Weaver C.M., Kester J.J. Adv Food Nutr Res. 2008;54:219-346.
- Verly Junior E., Marchioni D.M., Araujo M.C., Carli E., et al. Rev Saude Publica. 2021;55(Supl 1):5s.
- ANVISA. RDC Nº 269, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005. Ministério da Saúde Brasil. Vol Agência Nacional de Vigilância Sanitária2005.
- Rathee M., Singla S., Tamrakar A.K. International Journal of Scientific Research. 2013;2(9):2277.
- Sllamniku Dalipi Z., Dragidella F. Dent J (Basel). 2022;10(7).
- Ericsson Y., Ekberg O. J Periodontal Res. 1975;10(5):56-69.
- Davideau J.L., Lezot F., Kato S., Bailleul-Forestier I., et al. J Steroid Biochem Mol Biol. 2004;89-90(1-5):615-618.
- Mohammad A.R., Hooper D.A., Vermilyea S.G., Mariotti A., et al. Int Dent J. 2003;53(3):121-125.
- Dawson-Hughes B., Dallal G.E., Krall E.A., Sadowski L., et al. N Engl J Med. 1990;323(13):878-883.
- Dawson-Hughes B., Harris S.S., Krall E.A., Dallal G.E. N Engl J Med. 1997;337(10):670-676.
- Krall E.A., Wehler C., Garcia R.I., Harris S.S., et al. Am J Med. 2001;111(6):452-456.
- Krall E.A., Garcia R.I., Dawson-Hughes B. Calcif Tissue Int. 1996;59(6):433-437