No que tange à fibrose cística, o mês de setembro é especial e marcado por dois dias que, juntos, enaltecem a importância do Setembro Roxo – Mês Nacional de Conscientização e Divulgação da Fibrose Cística [1]. A primeira data, 5 de setembro, foi instituída pela Lei Nº 12.136/2009 – o Dia Nacional de Conscientização e Divulgação da doença, e a segunda se deve à publicação da descoberta do gene causador, feita em 8 de setembro de 1989 – Dia Mundial da Fibrose Cística [1].
A fibrose cística (FC), também conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose, é a doença genética grave mais comum da infância e atinge cerca de 70 mil pessoas em todo o mundo [1, 2]. Trata-se de uma patologia hereditária, em que a alteração genética dá origem a uma proteína anormal chamada CFTR (do inglês, “Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator“), a qual leva à formação de secreções muito espessas (30 a 60 vezes mais que o usual) e desidratadas em diversos órgãos, como o pulmão, o pâncreas, o intestino, o fígado e o sistema reprodutor [1, 2]. Especialmente no pulmão, este excesso de muco espesso resulta no acúmulo de bactérias e germes nas vias respiratórias, podendo causar inchaço, inflamações e infecções como pneumonia e bronquite [3].
O muco também pode bloquear o trato digestório e o pâncreas, impedindo que as enzimas digestivas cheguem ao intestino e, consequentemente, prejudicando a absorção e o aproveitamento dos nutrientes alimentares [2]. Por sua vez, a melhora da função pulmonar do paciente com FC está diretamente relacionada a sua recuperação nutricional. Visto que a FC é uma doença crônica e progressiva, o cuidado com o estado nutricional do paciente é uma estratégia fundamental para a manutenção da sua saúde [1].
E onde entra o magnésio? O magnésio é um elemento essencial, que desempenha papel fundamental nas atividades enzimáticas do organismo, atuando como cofator em mais de 300 reações metabólicas. Entretanto, evidências clínicas apontam que, os níveis séricos de magnésio diminuem conforme a idade avança em pacientes com FC [4]. Curiosamente, a fraqueza dos músculos respiratórios, o muco espesso, a obstrução do fluxo de ar e a hipertensão pulmonar são sintomas que caracterizam tanto as complicações pulmonares causadas pela FC [5, 6], quanto a deficiência de magnésio [7, 8]. Por outro lado, a suplementação oral desse nutriente tem gerado efeitos positivos na FC, demonstrados pelo aperfeiçoamento da força muscular respiratória, dissolução do muco, diminuição da obstrução do fluxo de ar, e melhora da vasodilatação na hipertensão pulmonar [4].
A fim de analisar essa relação, Gontijo-Amaral et al. (2012), investigaram o efeito da suplementação com o Magnésio Bisglicinato Quelato na força do músculo respiratório de crianças com FC. Após oito semanas de intervenção (300mg/dia de magnésio), foi possível observar melhora significativa das medidas de pressão máxima inspiratória e expiratória. Além disso, a administração do magnésio também resultou em efeitos benéficos em outras variáveis clínicas como atividade geral, nutrição, exames radiológicos e exame físico, relacionadas com o estado de saúde geral dos pacientes [9].
Apesar desses benefícios, a escolha da fonte mineral é determinante para a eficácia e segurança da suplementação. Os Minerais Aminoácidos Quelatos apresentam características únicas, devido ao processo de ligação entre o mineral e o aminoácido, que garantem uma alta biodisponibilidade e uma absorção 3 a 8 vezes maior que a dos minerais inorgânicos [10]. Além disso, eles não interagem com medicamentos nem com antinutrientes da dieta, não formam complexos insolúveis com outros minerais e apresentam diminuição ou até mesmo ausência de efeitos colaterais no trato gastrointestinal, condições que comumente são observadas no consumo dos sais minerais comuns (óxidos, sulfatos, carbonatos, entre outros).
Por fim, é importante ressaltar que a FC foi incluída no programa de triagem neonatal, conhecido como “teste do pezinho”. Esse diagnóstico inicial deve ser corroborado pelo “teste do suor”, com a dosagem da concentração do cloreto, que é o principal exame diagnóstico dessa doença [1]. O diagnóstico precoce faz muita diferença, pois previne e retarda diversos problemas graves, auxilia no crescimento e aumenta a expectativa de vida do paciente [1]. Portanto, a conscientização sobre os diversos aspectos da doença é de suma relevância para a saúde pública, e a suplementação mineral pode ser uma aliada importante na promoção da qualidade de vida para o paciente com o FC.
Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD
Referências
1. Chiba S.M. 2020; https://sp.unifesp.br/epe/desc/noticias/setembro-roxo. Accessed 19/08/2021 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA A MUCOVISCIDOSE (ABRAM). 2021; http://www.abram.org.br/o-que-e-fibrose-cistica. Accessed 19/08/2021. 3. Bergeron C., Cantin A.M. Semin Respir Crit Care Med. 2019;40(6):715-726. 4. Santi M., Milani G.P., Simonetti G.D., Fossali E.F., et al. Pediatr Pulmonol. 2016;51(2):196-202. 5. Goralski J.L., Davis S.D. Pediatr Pulmonol. 2015;50 Suppl 40:S66-73. 6. Savant A.P., McColley S.A. Pediatr Pulmonol. 2015;50(11):1147-1156. 7. Ayuk J., Gittoes N.J. Ann Clin Biochem. 2014;51(Pt 2):179-188. 8. de Baaij J.H., Hoenderop J.G., Bindels R.J. Physiol Rev. 2015;95(1):1-46. 9. Gontijo-Amaral C., Guimaraes E.V., Camargos P. Am J Clin Nutr. 2012;96(1):50-56. 10. Ashmead H.D. Comparative Intestinal Absorption and Subsequent Metabolism of Metal Amino Acid Chelates and Inorganic Metal Salts. In: Subramanianm K, ed. Biological Trace Element Research. Washington DC: ACS Publications; 1991:306-319.