O agosto dourado tornou-se simbólico na promoção do aleitamento materno. Entre 1 e 7 de agosto, ocorre a Semana Mundial de Aleitamento Materno coordenada pela Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno (WABA), uma rede global dedicadas à proteção, promoção e apoio à amamentação. Neste ano, o tema escolhido foi “#SMAM2020 Apoie a amamentação para um planeta mais saudável”.
Apesar de a Organização Mundial da Saúde recomendar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e, após esse período, até dois anos ou mais complementado com a alimentação, a média de tempo de aleitamento materno exclusivo no Brasil é de apenas 54 dias, ou menos de dois meses, o que ressalta a importância do incentivo à amamentação no país.
Além de reduzir o risco de morte dos bebês até os 5 anos de idade, a amamentação beneficia a saúde e desenvolvimento do bebê a longo prazo. Estudos indicam que crianças amamentadas apresentam melhores habilidades cognitivas verbais e não verbais, associadas com a melhor formação da bainha de mielina, estrutura com função de proteger os neurônios e acelerar a velocidade de propagação dos impulsos nervosos.
Essas diferenças no desenvolvimento infantil a depender da alimentação do bebê persistem na infância e parecem ser influenciadas por diferenças na composição nutricional entre o leite humano e a fórmula infantil. Em particular, a colina está entre os principais nutrientes no leite materno associados às trajetórias iniciais de desenvolvimento do bebê.
Vale notar que a Academia Americana de Pediatria recentemente reconheceu a colina como um nutriente essencial para apoiar o neurodesenvolvimento durante os primeiros 1.000 dias do bebê, que envolvem o período de gestação até o seu segundo ano de vida.
Colina durante a amamentação
A colina é necessária na dieta da mãe durante a amamentação para garantir sua concentração adequada no leite materno e dar suporte ao crescimento e desenvolvimento cognitivo e imune do bebê.
A alta taxa de secreção de colina no leite materno indica que as mulheres durante a amamentação têm uma alta demanda do nutriente. De fato, enquanto a ANVISA recomenda a ingestão diária de 450mg de colina para as gestantes, a recomendação aumenta para 550mg durante o período de amamentação.
Sabe-se que a colina é crítica para o bebê desde a gestação para garantir o seu desenvolvimento cognitivo e cerebral ideal. Além de ser considerada um componente estrutural importante das nossas células, inclusive dos neurônios, ela é importante para a síntese do neurotransmissor acetilcolina, envolvido em funções essenciais no cérebro, como a memória. De fato, estudos indicam que a deficiência de colina contribui para distúrbios neurológicos.
Um estudo avaliou a influência da colina no leite materno, bem como da luteína e ácido docosahexaenóico (DHA), na memória de reconhecimento de 67 bebês aos seis meses de idade.
Primeiramente, os pesquisadores analisaram amostras do leite para avaliar os níveis dos nutrientes. Então, eles testaram a memória de reconhecimento dos bebês por eletrofisiologia, utilizando eletrodos no couro cabeludo para registrar a atividade de seus cérebros enquanto observavam fotos na tela de um computador.
Os testes revelaram que níveis mais altos de colina no leite materno, juntamente com a luteína e o DHA, estavam relacionados a uma melhor memória de reconhecimento dos bebês, indicando um importante papel sinérgico da colina com outros nutrientes na melhora da função cognitiva infantil.
Considerações finais
A amamentação exclusiva e prolongada desempenha um papel importante no desenvolvimento cognitivo na infância. A colina se destaca como um nutriente presente no leite materno que é especialmente importante para o desenvolvimento do bebê, bem como para a manutenção da saúde materna. Dessa forma, é fundamental que as mães durante a amamentação garantam o consumo adequado de colina.
No entanto, apesar da maior necessidade do nutriente, dados epidemiológicos sugerem que muitas mulheres durante esse período chave do desenvolvimento do bebê não consomem quantidades adequadas de colina. Cerca de um quarto das mulheres em países de alta renda e a maioria das mulheres em países de baixa renda consomem pouca colina em sua dieta. Além disso, os suplementos vitamínicos para mães nessa fase, em geral, não contêm colina ou apresentam o nutriente em níveis insuficientes.
Vale notar que as fontes alimentares mais ricas de colina são de origem animal, como leite, carne e especialmente ovos. Portanto, dietas vegetarianas ou veganas podem fornecer níveis ainda mais baixos do nutriente, tornando a suplementação com colina benéfica durante a amamentação.
Produzido por: Andrea Rodrigues Vasconcelos, PhD.
Referências
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