Um estudo recente, publicado em 2023, avaliou a ingestão de cálcio, ferro, zinco, magnésio, fósforo e sódio de jovens entre 15 e 24,9 anos e concluiu que expressiva parcela da população estudada se encontrou em risco nutricional para cálcio, magnésio e sódio. Este artigo, publicado na revista Brazilian Journal of Nutrition JAMA Neurology, é um dos braços do Estudo Brasileiro de Nutrição e Saúde, que avaliou 476 indivíduos. A ingestão de minerais dos participantes foi obtida por meio de dois recordatórios de 24 horas1.

 

 

A adolescência é uma fase em que há muitas transformações, entre elas, o desenvolvimento e a maturação de órgãos, e dos sistemas fisiológicos e cognitivo. Nesse período, jovens de 10 a 19 anos ganham cerca de 20% da altura final e 50% do peso adulto, com considerável remodelação corporal, por meio de mudanças nas proporções e distribuição de músculo, gordura e osso, tendo um aumento de até 40% de massa óssea. Tais alterações formam a base da saúde metabólica e musculoesquelética, as quais podem perdurar até a idade avançada. O início e a duração da puberdade, somada à nutrição, pode afetar o pico de massa óssea. Um início tardio da puberdade tem sido associado a uma diminuição de 10% na massa óssea e um risco aumentado de fratura de quadril em vida, posteriormente2.

 

 

Adicionalmente, o cérebro atinge, aproximadamente, 90% de seu tamanho adulto por volta dos 6 anos de idade, mas os subcomponentes da substância cinzenta e branca continuam a crescer e se desenvolver ao longo da adolescência. O cérebro adolescente é caracterizado pela neuroplasticidade, capacidade de solucionar problemas sociais, ambientais, de aprendizagem e de adaptação2.

 

Junto a este intenso desenvolvimento há um consequente aumento da demanda por nutrientes necessários para atendê-lo e, por este motivo, os adolescentes são mais vulneráveis ​​a deficiências nutricionais1. Além disso, outros aspectos também contribuem para deficiências desses minerais como fatores socioeconômicos e alimentares2. O contexto socioeconômico relaciona-se com a prevalência de baixa estatura, magreza e sobrepeso ou obesidade ao longo do tempo entre os adolescentes, visto que impacta diretamente na qualidade da dieta e no estilo de vida2.

 

Em relação aos hábitos alimentares dos adolescentes brasileiros, estes estão consumindo cada vez mais alimentos com baixo valor nutricional e alto valor calórico, carregados de quantidades altas de sódio, açúcar, gordura e aditivos, isto é, alimentos industrializados e ultraprocessados. O consumo de alimentos ultraprocessados constitui 30% da ingestão total de calorias consumidas pela população brasileira3. Este tipo de alimentação está associado ao acúmulo de gordura corporal, bem como ao maior risco de desenvolvimento de problemas de saúde já bastante conhecidos, como obesidade, síndrome metabólica, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas e osteoporose1-4.

 

A qualidade da dieta durante a adolescência e início da idade adulta pode ter repercussões imediatas na saúde, afetando a composição corporal, a mineralização óssea e o desempenho acadêmico, assim como acarretando consequências a longo prazo, predispondo a doenças crônicas não transmissíveis1.

 

O cálcio, o magnésio e o fósforo são minerais muito utilizados para o desenvolvimento devido ao metabolismo ósseo acelerado característico do período. O magnésio também desempenha um papel importante no metabolismo energético celular, devido à expansão do volume, ao aumento do tecido muscular e da capacidade respiratória1.

 

O baixo consumo de leite e derivados pela população brasileira, incluindo adolescentes, contribui para uma ingestão inadequada de cálcio, magnésio e fósforo, principalmente para adolescentes do sexo feminino. O suprimento adequado desses minerais é de vital importância, principalmente durante o período de mineralização óssea (<25 anos), contribuindo para o adequado crescimento ósseo e prevenção de problemas ósseos1. Um estudo de coorte dos Estados Unidos revelou que uma dieta com rica ingestão de leite na infância e adolescência foi associada com maior altura na idade adulta comparado a uma dieta de baixa ingestão2.

 

A respeito do sódio, seu consumo adequado é essencial, pois regula o volume sanguíneo e participa de processos de contração muscular. Este nutriente possui alta prevalência de inadequação entre os adolescentes brasileiros justificada pela sua alta ingestão na dieta, proveniente de alimentos industrializados e do sal adicionado nas preparações1.

 

Apesar de não ter sido apontado no estudo citado, a deficiência de ferro entre adolescentes pode ser frequente, pois, nesta fase, há um aumento do volume de massa muscular e um aumento nos níveis de hemoglobina, sendo mais prevalente em meninas para atender às necessidades adicionais relativo à menstruação1. A deficiência de ferro em adolescentes resulta em comprometimento do crescimento, diminuição cognitiva funcional e função imunológica deprimida2.

 

Quanto ao zinco, a necessidade dietética para o zinco é maior para adolescentes do que para adultos, uma vez que o crescimento celular é acelerado. A ingestão inadequada de micronutrientes antioxidantes, incluindo o zinco, está associada com risco cardiometabólico em adolescentes e adultos1.

 

Além disso, dietas ricas em gordura e açúcar podem afetar o neurodesenvolvimento durante a adolescência podendo levar à desregulação de comportamentos alimentares e impulsivos, além do comprometimento no desenvolvimento neurocognitivo ligado à ansiedade e depressão, bem como aprendizado e memória2. Deficiências dietéticas em macronutrientes, como proteínas e micronutrientes como vitaminas e minerais prejudicam a função imune aumentando a gravidade de doenças infecciosas comuns2.

 

Por fim, recomenda-se diminuir o consumo de alimentos processados no dia a dia e optar por comidas frescas sempre que possível. Caso seja necessário, a suplementação desses minerais é essencial para proporcionar um desenvolvimento ideal a fim de garantir a saúde dos adolescentes, prevenindo futuras doenças.

 

Referências

 

  1. Del’Arco APWT, Previdelli AN, Ferrari G, Fisberg M. Revista de Nutrição. 2023;36.
  2. Norris SA, Frongillo EA, Black MM, Dong Y, Fall C, Lampl M, et al. Lancet. 2022;399(10320):172-84.
  3. Ferreira I. Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados pode aumentar risco de declínio cognitivo Jornal da USP: Jornal da USP; 2022 [Jornal da USP:[Available from: https://jornal.usp.br/ciencias/consumo-excessivo-de-alimentos-ultraprocessados-aumenta-o-risco-de-declinio-cognitivo/.
  4. Gomes Gonçalves N, Vidal Ferreira N, Khandpur N, Martinez Steele E, Bertazzi Levy R, Andrade Lotufo P, et al. JAMA Neurology. 2023;80(2):142-50.

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