A enzima H+/K+-ATPase ou bomba de prótons, é a responsável pela secreção de ácido clorídrico no lúmen estomacal e está localizada nos canalículos das células parietais. Nesse sentido, os inibidores de bomba de prótons (IBP), são medicamentos responsáveis por inibir a produção da secreção ácida do estômago, aumentando o pH do suco gástrico e impedindo a troca de H+ e K+. Os IBP são amplamente utilizados para tratar distúrbios como a doença péptica e o refluxo gastresofágico, tendo como principal representante de sua classe o omeprazol (1,2).
Apesar de serem considerados seguros, o uso contínuo de IBP tem sido associado a prejuízos à saúde, incluindo aumento na incidência de infecções entéricas, aumento no risco de demência e até comprometimento na absorção de alguns nutrientes. Minerais como o ferro, magnésio e cálcio necessitam de um pH mais baixo para serem absorvidos corretamente e, desta forma, o uso contínuo de IBP pode ocasionar estados de deficiência destes elementos no organismo (3,4,5,6).
O ácido gástrico desempenha um papel fundamental na absorção do ferro, especialmente em sua forma não heme (origem vegetal) (7). Este tipo de ferro requer um meio ácido para reduzir o Fe3+ (férrico) em Fe2+ (ferroso), para posteriormente ser captado e absorvido na luz intestinal (8). Nesse sentido, a hipocloridria gerada pelo uso dos IBPs pode interferir na metabolização do ferro, induzindo, inclusive, quadros de anemia. Um estudo publicado recentemente no Journal of Internal Medicine avaliou os prontuários de cerca de 27 mil pacientes diagnosticados com carência de ferro, no intuito de relacionar a deficiência do mineral com o uso contínuo de IBP. Os resultados da pesquisa mostraram que os pacientes que utilizaram estes inibidores por mais de 3 anos apresentavam risco maior de deficiência de ferro em comparação com o grupo controle (9). Nesse mesmo sentido, diversos estudos de caso têm relatado a ocorrência de anemia grave em indivíduos que faziam o uso prologando de IBP, como resultado de uma menor secreção de ácido gástrico e redução na absorção gastrointestinal do nutriente (7,10).
A hipomagnesemia também vem sendo descrita como um efeito colateral do uso contínuo de IBP (11,12). Epstein e colaboradores relataram pela primeira vez dois pacientes tratados com omeprazol que apresentaram hipomagnesemia grave. Após a descontinuação do medicamento, os níveis de magnésio no soro e na urina se normalizaram e permaneceram dentro da faixa normal, sem suplementação. Apesar dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento da deficiência ainda não estejam elucidados, acredita-se que os IBP prejudiquem a absorção intestinal do magnésio (13).
O risco aumentado na ocorrência de fraturas é mais uma preocupação quando se fala do uso prolongado de IBP. Além da interferência no metabolismo do ferro e do magnésio, o cálcio também possui sua absorção prejudicada pela utilização contínua destes fármacos. Como a maioria do cálcio dietético está na forma de sais insolúveis, o pH mais alcalino dificulta a dissolução dos mesmos e consequentemente, altera sua absorção normal (14).
Nesse cenário, é extremamente importante que a prescrição seja feita de modo consciente, a fim de analisar a real necessidade do uso contínuo de IBP. A preocupação com as complicações deve ser direcionada principalmente a pacientes mais vulneráveis, como idosos, desnutridos e imunocomprometidos, avaliando cuidadosamente a adequação e o tratamento com IBP (15).
Por fim, a suplementação de Minerais Aminoácidos Quelatos pode ser uma boa estratégia para os pacientes que não podem abdicar destes medicamentos, já que diferentemente de outras formas minerais, estes não requerem ambiente ácido para serem absorvidos e, portanto, possuem melhor absorção e biodisponibilidade (16).
Referências
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