Em 2005 o Comitê Olímpico Internacional (COI) introduziu pela primeira vez à comunidade médica o conceito da Tríade da Mulher Atleta, que foi definido como a combinação de distúrbios alimentares e ciclos menstruais irregulares, eventualmente levando a uma diminuição do estrogênio endógeno e de outros hormônios, resultando em baixa densidade mineral óssea, e por consequência, quadros de osteopenia e osteoporose precoces1. Com o avanço da medicina o conceito foi se atualizando e atualmente o conceito da Tríade foi substituído por um termo mais abrangente e amplo, a Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S, do inglês Relative Energy Deficiency in Sport)1.

 

A mudança foi desencadeada pelo novo entendimento de que a causa da Tríade está relacionada ao déficit energético, provocado pelo desequilíbrio entre a ingestão de energia dietética (calorias) e o gasto energético para a manutenção das funções vitais do organismo, das atividades diárias e da prática esportiva1. Também ficou evidente que este fenômeno clínico não se limita a uma tríade de três entidades (distúrbios alimentares, função menstrual e saúde óssea), mas compreende uma série de distúrbios funcionais, que atingem também o público masculino1.

 

Dessa forma, a síndrome de RED-S é caracterizada pelo COI como o prejuízo das funções fisiológicas, incluindo, mas não limitada, a taxa metabólica, função menstrual, saúde óssea, imunidade, síntese de proteínas e saúde cardiovascular, causadas pela deficiência relativa de energia1. Ou seja, ocorre um desequilíbrio energético causado pela baixa ingestão calórica (calorias consumidas) e o alto gasto energético (calorias gastas), “negativando” a reserva energética do organismo para cumprir suas demandas metabólicas básicas e do exercício físico. Vale mencionar que a RED-S pode acometer atletas amadores ou de alto rendimento, homens e mulheres2.

 

Além disso, indivíduos que sofrem com essa baixa disponibilidade energética, a longo prazo, podem desenvolver também deficiências nutricionais (como a anemia), e os riscos associados a essa condição como fadiga crônica e aumento do risco de infecções, que afetam tanto a saúde quanto o desempenho esportivo1, 3.

 

Figura 1. Sistemas e funções prejudicadas na deficiência energética. Adaptado de Mountjoy et al. (2014)1

 

A questão da função menstrual postulada na Tríade da Mulher Atleta é um bom exemplo das consequências do déficit energético e um dos primeiros sinais de alerta. Quando seu corpo entende que não há quantidade de energia suficiente para realizar todas as funções metabólicas, ele começa a economizar energia e abrir mão de funções primariamente “não vitais”, como é o caso do fluxo menstrual. Dessa forma, o ciclo começa a apresentar irregularidades e o fluxo sanguíneo diminui, até o momento em que ele cessa (amenorreia)3.

 

A transição entre um atleta saudável até o momento de desenvolvimento da RED-S leva algum tempo, mas sem o acompanhamento médico, os sinais de alerta podem passar despercebidos. Alguns dos principais gatilhos relacionados a essa mudança de comportamento envolvem a grande pressão por resultados na performance (treinamento excessivo), nas desordens alimentares (busca pelo emagrecimento), ou ambas as condições simultaneamente. Para se ter uma ideia, os distúrbios alimentares são 20% mais frequentes em atletas do que em não atletas4.

 

Dessa forma, o tratamento e a prevenção da RED-S devem ser feitos por uma equipe multidisciplinar, com acompanhamento médico, nutricional e psicológico. Devem ser estabelecidas novas estratégias para o indivíduo visando o aporte nutricional adequado associado ao treinamento físico controlado. Fique atento aos sinais de alerta como a recorrência de doenças oportunistas, alterações no ciclo menstrual, queda de cabelo, diminuição da libido, fadiga e irritabilidade constante, entre outras alterações pontuadas anteriormente, e consulte um profissional de saúde.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

 

Referências

  1. Mountjoy M., Sundgot-Borgen J., Burke L., Carter S., et al. Br J Sports Med. 2014;48(7):491-497.
  2. Sundgot-Borgen J., Meyer N.L., Lohman T.G., Ackland T.R., et al. Br J Sports Med. 2013;47(16):1012-1022.
  3. Nattiv A., Loucks A.B., Manore M.M., Sanborn C.F., et al. Med Sci Sports Exerc. 2007;39(10):1867-1882.
  4. Joy E., Kussman A., Nattiv A. Br J Sports Med. 2016;50(3):154-162.

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