Comumente chamada de dor de cabeça, a cefaleia é uma condição de saúde frequente, com intensidade e características variáveis. De acordo com a causa, a cefaleia pode ser classificada em cefaleias primárias, sendo as mais comuns, como dor de cabeça tensional e enxaqueca, e cefaleias secundárias, que estão correlacionadas com outras doenças como infecções virais, aneurismas, AVC, distúrbios oftalmológicos, dentre outros [1].
Estima-se que 90% da população será acometida por dor de cabeça em algum momento da vida, independentemente de idade. Sendo esta, a condição neurológica mais prevalente e com os sintomas mais frequentemente vistos na prática clínica [2]. A mais comum é a dor de cabeça tensional, que atinge 38% da população, e a enxaqueca, forma mais grave e incapacitante da cefaleia, que atinge 12% da população [3].
A depender do tipo de cefaleia, o tratamento medicamentoso é a única via para o alívio da dor, mas seu uso constante pode acarretar prejuízos à saúde. Nesse sentido, alternativas mais baratas e seguras, como a suplementação nutricional, podem se tornar uma opção eficaz para o controle das dores de cabeça, e ainda proporcionar uma melhor qualidade de vida para quem sofre essa condição.
Dentre os nutrientes importantes na amenização das dores de cabeça, o magnésio tem papel de destaque. Este mineral essencial é o quarto cátion mais abundante no corpo humano e está envolvido em diversos processos fundamentais, como atividade enzimática, fosforilação oxidativa, síntese de DNA e proteína, condução neuromuscular, excitabilidade neuronal e pressão sanguínea [4, 5].
Uma vasta quantidade de literatura científica sugere uma relação direta entre a deficiência de magnésio e as cefaleias primárias, como dores de cabeça e enxaquecas leves e moderadas [6-9]. Esta deficiência pode ocorrer por várias razões como ingestão inadequada, perda gastrointestinal e perda renal, ou condições médicas específicas [10].
O estudo de Sarchielli et al., por exemplo, demonstrou que indivíduos que sofrem com enxaqueca e cefaleias tensionais têm níveis significativamente mais baixos de magnésio sérico e salivar [9]. Corroborando esse dado, um ensaio de 2 semanas revelou que, quando 29 pacientes com enxaqueca ingeriram água mineral contendo 110 mg/L de magnésio por dia, o magnésio total nos eritrócitos aumentou significativamente, em comparação com 18 controles saudáveis [11], sugerindo que pessoas que sofrem com enxaqueca possuem uma deficiência de magnésio mais elevada quando comparada a indivíduos saudáveis, e que este seria um fator de risco para a ocorrência de dores de cabeça.
Por outro lado, a suplementação de magnésio também se mostrou efetiva na redução e amenização das dores de cabeça, assim como na frequência e gravidade das crises, conforme demonstrado por estudos clínicos [12-14]. Um estudo randomizado duplo-cego e controlado por placebo, conduzido com 81 pacientes adultos com quadros episódicos de cefaleia, verificou que a suplementação diária com magnésio acarretou em uma redução de 41,6% na frequência de crises de enxaqueca, em comparação ao grupo placebo [15].
Já o estudo de Facchinetti et al. [12] investigou os efeitos da suplementação em 20 mulheres com enxaqueca menstrual, visto que mulheres no período pré-menstrual tendem a apresentar níveis menores de magnésio nos eritrócitos e leucócitos, do que mulheres fora desse período do ciclo [10]. As mulheres receberam a suplementação com magnésio ou placebo diariamente desde a ovulação até o primeiro dia de seu período, e os resultados mostraram uma redução significativa na frequência de dores de cabeça e no índice total de dor, em comparação ao placebo [12].
Em vista dos resultados desses estudos, várias diretrizes internacionais, como a Academia Americana de Neurologia, adicionaram em seus manuais a recomendação de magnésio oral para prevenção da enxaqueca [16].
Diante dessas informações, o magnésio se mostra como uma alternativa e associação relevante à medicação tradicional para dores de cabeça, que traz consigo problemas como dependência e efeitos colaterais. Por se tratar de um nutriente essencial, este mineral apresenta relativa ausência de efeitos colaterais. Isso é particularmente interessante para uso também em grupos específicos, nos quais os efeitos colaterais e o uso de medicação são mais restritos e menos tolerados, como crianças, mulheres grávidas e idosos, além de ser de baixo custo.
Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD
Referências
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