A quimioterapia ainda é um dos principais tratamentos contra o câncer. Este método consiste na administração de medicamentos que se misturam com o sangue, e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes responsáveis pela formação dos tumores, impedindo, também, que se multipliquem e se espalhem para mais locais 1. Independentemente do método de administração, seja via oral, intravenosa, subcutânea, entre outras, a quimioterapia está associada a uma série de efeitos colaterais como diarreia, vômito, feridas na boca (aftas) e a mucosite 1.

 

A mucosite é um efeito adverso bastante comum e incômodo em pacientes quimioterápicos, atingindo cerca de 40% dessa população 2, 3. Esta condição afeta principalmente a cavidade oral (mucosite oral), da boca, mas também é capaz de se estender por todo o trato gastrointestinal, ocasionando a mucosite intestinal (MI) 4, 5. O desenvolvimento da MI é um processo que vai de uma fase inflamatória até ulcerativa, com perda da integridade e danos ao revestimento da mucosa, ou parede intestinal 6, 7. Na fase ulcerativa, forma mais grave, a formação de úlceras abre portas para o desenvolvimento de outras complicações adjacentes, como o aumento do risco de deficiências nutricionais, além de facilitar a entrada de bactérias, fungos e vírus, influenciar as funções endócrinas do intestino e aumentar a permeabilidade intestinal (ocasionando quadros de diarreia) 8, 9.

 

Associada à queda de imunidade natural que ocorre em pacientes quimioterápicos, essas complicações geradas pela toxicidade intestinal podem resultar em quadros de febre, infecções graves e risco de mortalidade aumentada, além de afetar seriamente a qualidade de vida do indivíduo 10.

 

Diante deste cenário, o colostro bovino com sua composição única e completa, tem se mostrado como um nutriente promissor no tratamento adjuvante da mucosite oral e intestinal e no fortalecimento do sistema imune desses pacientes.

 

O colostro bovino (CB) oferece em sua composição uma mistura de citocinas, imunoglobulinas, fatores de crescimento e nutrientes importantes que ativam o sistema imunológico e fortalecem as mucosas intestinais, com função tanto protetora como reparadora 11. Além disso, estudos in vitro e em animais têm explorado cada vez mais as suas propriedades anticâncer, onde o CB foi capaz de induzir a apoptose em células cancerígenas e limitar o crescimento de tumores 12.

 

Na mucosite, especificamente, estudos pré-clínicos verificaram que a ingestão de CB reduziu a toxicidade intestinal causada pela quimioterapia ao manter a função e integridade intestinal e ao diminuir a concentração de citocinas inflamatórias na mucosa 12.

 

Já em um estudo clínico mais recente, pacientes pediátricos acometidos por leucemia linfoblástica aguda (ALL) receberam a suplementação diária de colostro bovino ou placebo, durante um período de 4 semanas e foram avaliados quanto a severidade da mucosite durante o tratamento quimioterápico 13. Ao final do estudo, os pacientes do grupo placebo tiveram uma pontuação de gravidade da mucosite substancialmente mais alta do que os pacientes que receberam o CB 13. Essa pontuação levou em consideração a intensidade de sintomas como dor abdominal e diarreia. Dessa forma, os autores sugerem que o colostro bovino pode promover a integridade da mucosa intestinal por meio de efeitos antimicrobianos e neutralizadores de endotoxinas, supressão da inflamação intestinal e promoção do reparo do tecido do intestino 13.

 

Esses resultados são interessantes principalmente quando levamos em consideração que, atualmente, o tratamento para a mucosite é limitado ao uso de medicamentos anti-inflamatórios, anestésicos e terapia a laser, abordagens de custo elevado e com outros efeitos colaterais específicos 2. O CB é um agente natural, seguro, e acessível que está atualmente autorizado pela ANVISA para uso em suplementos alimentares na população adulta. Mais estudos devem ser conduzidos a fim de esclarecer e corroborar os benefícios do colostro bovino na melhora do quadro de mucosite, e por consequência, na melhora da qualidade de vida dos pacientes. Procure seu médico e saiba mais.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

 

Referências
1. Instituto Nacional de Câncer (INCA). 2022; https://www.inca.gov.br/tratamento/quimioterapia.
2. Singh V., Singh A.K. Natl J Maxillofac Surg. 2020;11(2):159-168.
3. Kostler W.J., Hejna M., Wenzel C., Zielinski C.C. CA Cancer J Clin. 2001;51(5):290-315.
4. Kuiken N.S., Rings E.H., Tissing W.J. Crit Rev Oncol Hematol. 2015;94(1):87-97.
5. Al-Dasooqi N., Sonis S.T., Bowen J.M., Bateman E., et al. Support Care Cancer. 2013;21(7):2075-2083.
6. Cardoso L.M., Pansani T.N., Hebling J., de Souza Costa C.A., et al. Arch Oral Biol. 2021;127:105159.
7. Sonis S.T., Elting L.S., Keefe D., Peterson D.E., et al. Cancer. 2004;100(9 Suppl):1995-2025.
8. Basile D., Di Nardo P., Corvaja C., Garattini S.K., et al. Cancers (Basel). 2019;11(6).
9. Sangild P.T., Vonderohe C., Melendez Hebib V., Burrin D.G. Nutrients. 2021;13(8).
10. van der Velden W.J., Herbers A.H., Netea M.G., Blijlevens N.M. Br J Haematol. 2014;167(4):441-452.
11. Chandwe K., Kelly P. Nutrients. 2021;13(6).
12. Alsayed A.R., Hasoun L.Z., Khader H.A., Basheti I.A., et al. Molecules. 2022;27(24):8641.
13. Rathe M., De Pietri S., Wehner P.S., Frandsen T.L., et al. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2020;44(2):337-347.

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