Uma alimentação adequada e equilibrada é de fundamental importância para a promoção e manutenção da saúde em qualquer período do ciclo de vida. A gestação e a lactação, por sua vez, são momentos biológicos que merecem o máximo de atenção no que se refere à oferta de macro e micronutrientes, uma vez que além da saúde materna é necessário garantir o adequado crescimento e desenvolvimento fetal. A nutrição no período pré-natal envolve mais que o ganho de peso e ingestão calórica. De fato, a ingestão diária recomendada (IDR) de muitos nutrientes aumenta durante a gestação. Vale mencionar que a única fonte de nutrientes do bebê é constituída pela ingestão e reservas nutricionais materna.
Nesse cenário, a manutenção de níveis adequados de nutrientes como ferro, colina, vitamina K2, ácido fólico, vitamina D e ômega-3 é essencial para garantir que todas as alterações metabólicas do período gestacional ocorram de forma saudável para a mãe e o bebê.
Ferro
O ferro é considerado um nutriente de extrema importância para o decorrer de uma gestação saudável. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 40% das mulheres grávidas são anêmicas. Durante a gestação, o volume sanguíneo chega a aumentar cerca de 50% e, consequentemente, a quantidade de ferro também deve ser adaptada para manter os níveis de hemoglobina adequados. A deficiência desse mineral pode acarretar em prejuízos para o desenvolvimento do embrião e saúde da mãe, tais como quadros de anemia, retardo do crescimento intrauterino, prematuridade e déficit cognitivo na criança. Dessa forma, a suplementação de ferro para este grupo é essencial e se faz necessária durante toda a gravidez, sendo inclusive uma recomendação oficial da OMS, que orienta a ingestão diária de 30 a 60mg de ferro elementar.
Colina
A colina é indispensável para o desenvolvimento da criança desde o período pré-natal. Dentre os seus inúmeros benefícios, esse nutriente está relacionado com a menor incidência de defeitos de fechamento do tubo neural, descolamento de placenta, quadros de pré-eclâmpsia e controle do estresse no momento do parto. A colina tem, ainda, papel primordial no desenvolvimento cognitivo do bebê. Apesar da sua importância, o consumo desse nutriente, tanto por gestantes quanto por mulheres em fase reprodutiva, está bem abaixo do recomendado, o que demonstra a necessidade da sua suplementação na dieta. Desde 2017, a Associação Médica Americana (AMA) recomenda a inclusão da colina dentre os nutrientes que devem ser consumidos e/ou suplementados durante o período pré-natal.
Vitamina K2
A vitamina K desempenha importantes funções fisiológicas, o que inclui a coagulação sanguínea, a promoção da saúde cardiovascular (através da inibição da calcificação dos vasos sanguíneos) e a mineralização óssea. A deficiência dessa vitamina durante a gestação pode acarretar em distúrbios hemorrágicos e problemas no desenvolvimento esquelético do bebê, tal como malformações da coluna vertebral. Nesse sentido, já é conhecido que a suplementação de vitamina K no período pré-natal melhora a coagulação das gestantes e otimiza os fatores de coagulação dependentes de vitamina K no sangue do cordão umbilical, reduzindo a incidência e severidade de desordens hemorrágicas em neonatos. A vitamina K é um grupo de vitaminas lipossolúveis (solúveis em lipídios) que ocorre naturalmente sob duas formas: as filoquinonas (vitamina K1) e as menaquinonas (vitamina K2), sendo essa última a forma mais eficaz e biodisponível da vitamina K, permanecendo mais tempo no organismo e atuando em proteínas importantes para a coagulação e saúde óssea e cardiovascular.
Ácido fólico
O ácido fólico é um micronutriente já consolidado na prática clínica como essencial para o período gestacional. A deficiência desse composto pode trazer prejuízos à saúde da mãe e do filho, tais como pré-eclâmpsia, anemia megaloblástica, baixo peso ao nascer e, principalmente, defeitos de fechamento do tubo neural do bebê. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a maior parte das mulheres em idade fértil não consome a quantidade suficiente de ácido fólico. Sendo assim, o órgão recomenda a suplementação desse nutriente principalmente no período pré-concepcional e durante o primeiro trimestre da gestação.
Vitamina D
A vitamina D também é fundamental para uma gestação saudável. A deficiência dessa vitamina pode gerar complicações, como diabetes gestacional, parto prematuro e raquitismo neonatal. Além dessas consequências, tem sido demonstrado uma correlação entre a deficiência de vitamina D com quadros de pré-eclâmpsia em mulheres grávidas.
Ômega-3
Além de seus benefícios na prevenção contra doenças cardiovasculares, o ômega-3 também possui papel essencial no desenvolvimento fetal. Estudos observacionais constataram que o consumo de ômega-3 (através da alimentação ou suplementação) durante a gravidez pode estar relacionado com um melhor desenvolvimento neurológico na criança.
Considerando a importância da nutrição durante o período pré-natal, o acompanhamento nutricional da gestante por um profissional habilitado é fundamental para que seja possível adequar as quantidades de macro e micronutrientes em um plano alimentar apropriado e que vise um bom desfecho para a mãe e o bebê.
Referências
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