A asma é uma doença caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas respiratórias, causando sintomas como tosse, sibilos, dispneia e opressão torácica. Essa inflamação pode ser resultado de diversos fatores, que vão desde aspectos genéticos até a exposição a substâncias alergênicas e irritantes. Normalmente, a obstrução das vias aéreas é revertida espontaneamente ou após tratamento, mas também pode ser irreversível em alguns casos.
O público infantil é o mais acometido pela doença. O grandioso estudo International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC), é um programa epidemiológico que avalia a prevalência de asma e alergias infantis no mundo inteiro, desde o início dos anos 90. Em todos esses anos, a pesquisa já envolveu cerca de 2 milhões de crianças em mais de 105 países, possibilitando a visão de um panorama mundial sobre os números da doença. Em uma de suas fases, o ISAAC avaliou os índices de prevalência de asma em diferentes cidades brasileiras, contando com a participação de 23 mil crianças. A prevalência de asma ativa estimada em todo o Brasil, em média, foi de 24,3% (oscilando de 16,5 a 31,2%) nas crianças com idade entre 6 e 7 anos, revelando a doença como um problema de saúde pública e de grande impacto no Brasil.
O tratamento da doença consiste no controle dos sintomas, prevenindo exacerbações agudas e mantendo a função pulmonar, onde o uso de medicamentos do tipo corticosteroides e broncodilatadores são a base da farmacoterapia para pessoas com asma persistente. Entretanto, estudos sugerem que alguns elementos podem estar envolvidos em processos inflamatórios como a asma. Nesse sentido, o zinco e o magnésio são dois minerais que tem se destacado nos estudos, mostrando ter um potencial benéfico para o controle e tratamento da asma.
O magnésio é um mineral essencial com papel em mais de 300 reações enzimáticas, participa do metabolismo de carboidratos e proteínas, atua como fator de crescimento e também na regeneração de tecidos, além de diversas outras funções. Na asma, estudos indicam que o magnésio atua na broncodilatação, sendo capaz de relaxar o músculo liso bronquiolar. Um estudo publicado no European Journal of Clinical Nutrition relatou os efeitos da suplementação oral de magnésio em 37 crianças e adolescentes asmáticos, com idade entre 7 e 19 anos, pelo período de 2 meses. Os participantes foram divididos em dois grupos, onde ambos receberam o tratamento com fluticasona e salbutamol (medicamentos utilizados no controle de asma) – apenas quando necessário; e somente um dos grupos recebeu a suplementação oral de magnésio. A partir do estudo, observou-se que os participantes que receberam a suplementação apresentaram uma redução significativa nos episódios de exacerbação de asma e menor uso de medicamentos de controle em comparação com o grupo placebo. Apesar dos mecanismos envolvidos ainda não serem totalmente conhecidos, os autores acreditam que o magnésio foi capaz de modular reações alérgicas, melhorando assim o quadro clínico das crianças envolvidas no estudo.
O zinco, por sua vez, dentre suas diversas funções no organismo, como a participação na divisão celular, desenvolvimento reprodutivo e sistema imunológico, também parece ter papel central nas vias da asma brônquica. Um ensaio clínico duplo-cego, verificou os efeitos da suplementação de zinco em crianças com asma moderada e com deficiência de zinco, demonstrando que a intervenção foi responsável por melhorar a função pulmonar, assim como também aliviou os sintomas clínicos da doença. Um outro estudo também avaliou os benefícios da suplementação de zinco, mas desta vez, em crianças hospitalizadas com diagnóstico de asma aguda exacerbada. A intervenção foi feita com 30 mg de zinco bisglicinato quelato diariamente, como um método de terapia adjuvante no tratamento. Os pesquisadores concluíram que o zinco auxiliou no processo de recuperação dos pacientes, já que o grupo que recebeu a suplementação apresentou uma melhora mais rápida e uma significativa diminuição da gravidade do quadro clínico. Ainda que não esteja completamente claro se a melhora ocorreu devido ao tratamento médico para asma ou pela intervenção do estudo, acredita-se que ambas as terapêuticas tiveram efeitos simultâneos, tendo em vista que, segundo os autores, o zinco ajuda a diminuir a inflamação das vias aéreas.
Com isso, os benefícios de minerais como o magnésio e o zinco vêm se destacando em diversas pesquisas, que buscam esclarecer que estes componentes são importantes aliados contra a asma. Apesar dessas terapias ainda não possuírem resultados totalmente consolidados, não se pode negar o potencial desses achados científicos promissores, firmando ainda mais a importância da nutrição na saúde humana.
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