Na era moderna em que vivemos, a crescente dependência da tecnologia, combinada à tendência global para a vida urbana, resulta em mais tempo online e menos tempo ao ar livre. No Brasil, por exemplo, a média de tempo diário em que passamos conectados à internet é de 9 horas e 17 minutos [1], equivalente a mais de 1/3 de um dia e, embora espantoso, esse número só tende a aumentar.

 

Apesar disso, a conexão do homem com a natureza tem caráter evolutivo, ou seja, a humanidade tem necessidade de estar em contato com a natureza para manutenção do seu bem-estar psicossocial [2]. É possível salientar uma série de benefícios diretos que a natureza oferece à saúde, como maior exposição à luz solar e a substâncias naturais emitidas por plantas como terpenos, fitoncidas, e por fungos e bactérias [3]. De forma indireta, temos ainda mais oportunidades de envolvimento social e espaço para atividade física, paralelo a uma redução às exposições ambientais prejudiciais, como poluição do ar e ruído [4-6].  

 

Um estudo conduzido na Inglaterra concluiu que pessoas que passam pelo menos 120 minutos por semana na natureza têm uma probabilidade significativamente maior de relatar boa saúde e maior bem-estar psicológico, em relação àquelas que não têm pouco contato com ambientes naturais [7]. Mas qual o impacto desses relatos na saúde de fato? Estudos experimentais sugerem que os efeitos abrangem corpo e mente. Curiosamente, os maiores benefícios são descritos nas chamadas “doenças da civilização moderna”, causadas pelo alto nível de estresse crônico e sedentarismo da sociedade atual [8], como depressão, ansiedade, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas, diabetes, doenças de pele e um sistema imunológico enfraquecido [8, 9].

 

Diversos estudos examinaram o estresse através de medidas objetivas, como frequência cardíaca, pressão arterial e o autorrelato de estresse, e medidas subjetivas, como a qualidade do sono, os níveis de cortisol, antes e após a terapia florestal. Os resultados apontam que a exposição aos ambientes naturais reduziu ambos os parâmetros, mesmo em curtos períodos de exposição [10, 11]. Em relação aos efeitos sobre o humor, os pesquisadores descobriram que o tempo passado nas florestas estava associado a uma redução dos sentimentos de hostilidade, depressão e ansiedade, entre adultos com estresse agudo e crônico [12-14], além do aumento da sensação de bem-estar e paz [12].

 

Tais mudanças são percebidas também a nível fisiológico, onde alterações na atividade cerebral do córtex pré-frontal, uma área do cérebro que desempenha um papel importante na regulação emocional, são observadas em pessoas expostas a ambientes naturais [11, 15]. As alterações observadas na atividade cerebral resultam em benefícios cognitivos, como o aumento do desempenho da memória operacional, melhor atenção, função executiva e restauração da percepção [4].  

 

Na saúde física, a maior parte das evidências aponta a melhora do sistema imune e da saúde cardiovascular, relacionadas à diminuição dos níveis de estresse. Um estudo verificou que a quantidade e a atividade das células natural killer (NK), com importante papel no sistema imunológico, foram maiores nos dias de terapia florestal, em comparação com os dias de controle, e que esse efeito persistiu ainda por 30 dias [16]. Na saúde cardiovascular, os estudos mostram uma diminuição nos níveis de pressão arterial sistólica e diastólica em populações jovens saudáveis, bem como em populações com hipertensão, sugerindo que caminhar na floresta pode levar a um estado de relaxamento fisiológico [11, 17].

 

Ademais, a forma como a natureza promove saúde vai desde um nível mais imersivo, como passeios em parques, praias, jardins e florestas, a contatos indiretos, como a simples observação de paisagens naturais à distância, possuir plantas em casa e olhar fotos ou vídeos de paisagens [18]. Vemos, então, que o meio ambiente desempenha um papel essencial na manutenção da saúde física e mental. Evidências científicas comprovam as associações positivas entre a exposição à natureza e a melhora da função cognitiva, atividade cerebral, pressão arterial, saúde mental, humor, atividade física e sono. Sendo o acesso à natureza fácil, gratuito e versátil, que tal experimentar incluir elementos naturais nos ambientes e dedicar uma parte do seu tempo a este contato?
 
 
Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc e Renata Cavalcanti, PhD

 

 

Referências:
1. Hootsuite and We Are Social. 2020; https://datareportal.com/reports/digital-2020-brazil. Accessed 18/11/2020. 2. Kellert S.R., Wilson E.O. Island Press: Washington, DC, USA. 1995. 3. Andersen L., Corazon S.S.S., Stigsdotter U.K.K. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(4). 4. Jimenez M.P., DeVille N.V., Elliott E.G., Schiff J.E., et al. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(9). 5. Warburton D.E.R., Bredin S.S.D. Curr Opin Cardiol. 2017;32(5):541-556. 6. Kelly M.E., Duff H., Kelly S., McHugh Power J.E., et al. Syst Rev. 2017;6(1):259. 7. White M.P., Alcock I., Grellier J., Wheeler B.W., et al. Sci Rep. 2019;9(1):7730. 8. Stier-Jarmer M., Throner V., Kirschneck M., Immich G., et al. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(4). 9. Salleh M.R. Malays J Med Sci. 2008;15(4):9-18. 10. Kondo M.C., Jacoby S.F., South E.C. Health Place. 2018;51:136-150. 11. Song C., Ikei H., Miyazaki Y. Int J Environ Res Public Health. 2016;13(8). 12. Bratman G.N., Hamilton J.P., Daily G.C. Ann N Y Acad Sci. 2012;1249:118-136. 13. Morita E., Fukuda S., Nagano J., Hamajima N., et al. Public Health. 2007;121(1):54-63. 14. Maund P.R., Irvine K.N., Reeves J., Strong E., et al. Int J Environ Res Public Health. 2019;16(22). 15. Hansen M.M., Jones R., Tocchini K. Int J Environ Res Public Health. 2017;14(8). 16. Li Q., Morimoto K., Nakadai A., Inagaki H., et al. Int J Immunopathol Pharmacol. 2007;20(2 Suppl 2):3-8. 17. Ideno Y., Hayashi K., Abe Y., Ueda K., et al. BMC Complement Altern Med. 2017;17(1):409. 18. Lenaerts A., Heyman S., De Decker A., Lauwers L., et al. Front Public Health. 2021;9:646568.

Disclaimer

O conteúdo do site não se destina a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença. Todas as informações são baseadas em evidências científicas, porém fornecidas apenas para fins informativos e com o objetivo de exercer uma comunicação business-to-business (B2B).

Disclaimer

The content of the website is not intended to diagnose, treat, cure or prevent any disease. All information is based on scientific evidence but provided for informational purposes only and with the aim of exercising business-to-business (B2B) communication.

Disclaimer

El contenido del sitio web no está destinado a diagnosticar, tratar, curar o prevenir ninguna enfermedad. Toda la información se basa en evidencia científica, pero se proporciona solo con fines informativos y con el objetivo de ejercer la comunicación de empresa a empresa.