Em tempos modernos, onde a tecnologia é parte importante de nossas vidas, passamos cada vez mais tempo conectados à internet, seja por motivos de lazer, estudo ou trabalho. Durante a atual pandemia da COVID-19, devido ao isolamento social e a quarentena, o tempo que passamos online aumentou consideravelmente, acarretando maior tempo de exposição às telas digitais. Estima-se que 23 milhões de brasileiros tiveram que se adaptar ao home office. Da mesma forma, 82% da população que frequenta escolas ou universidades passou a acompanhar as aulas de forma remota [1]. Esse comportamento não passa despercebido pela nossa saúde, resultando em muitos casos na Síndrome Visual do Computador (SVC). Mas o que seria a SVC?
A síndrome visual do computador é o termo utilizado para descrever o conjunto de sintomas visuais, oculares e musculoesqueléticos que resultam do uso prolongado de computadores, tablets ou smartphones [2]. Apesar de pouco conhecida, esta síndrome apresenta alta prevalência na população. Dados epidemiológicos mostram que entre 64% e 90% dos usuários de computador experimentam a SVC [2-4]. No Brasil, um estudo identificou que 54,6% dos operadores de um call center relataram sintomas da SVC [5].
As manifestações clínicas da SVC incluem cansaço visual, fadiga ocular, sensação de queimação e irritação nos olhos, olhos cansados, olhos secos, dor no interior e ao redor dos olhos, visão embaçada, fotofobia, dor de cabeça, dor no pescoço e dor nos ombros [2]. A gravidade dos sintomas é exposição dependente, ou seja, aumenta significativamente à medida que aumenta o tempo de exposição à tela digital [2], sendo estes sintomas já observados em pessoas que passam mais de 4 horas diárias na frente das telas [6].
O desenvolvimento da SVC envolve diversos fatores. Por exemplo, a redução do ato de piscar os olhos aumenta a exposição da córnea a fatores externos, facilitando a evaporação da água do filme lacrimal e acarretando olhos secos e redução da proteção ocular [7]. Vale mencionar que, quando diante da tela de um computador, nós piscamos menos, em torno de 7 vezes por minuto. Por outro lado, quando relaxados, esse índice aumenta para 22 piscadas por minuto. O uso de dispositivos eletrônicos por longos períodos também força a contração da musculatura ocular, a fim de manter o foco à curta distância. Com o passar do tempo, a contração excessiva promove a perda da capacidade desses músculos de realizarem o ajuste das lentes (acomodação visual), causando a fadiga ocular [7]. Associado a isso, temos os elementos externos, como baixa iluminação do ambiente e má postura, facilitando, assim, o aparecimento dos sintomas.
Apesar dos prejuízos associados, sabemos que o uso de dispositivos eletrônicos é inevitável e, na maioria dos casos, necessário para a realização de tarefas do dia a dia, como trabalho e estudo. Dessa forma, como podemos reduzir os sintomas da SVC? Uma das alternativas envolve a suplementação nutricional.
A astaxantina é um carotenóide de cor avermelhada, com alto poder antioxidante. De fato, a ação antioxidante da astaxantina é 2,6 vezes mais forte que aquela observada para a luteína, 3000 vezes maior que a do resveratrol e 6000 vezes maior que a descrita para a vitamina C [10]. Pela sua capacidade de se acumular significativamente nos olhos [11], a literatura médica tem demonstrado o seu efeito protetor contra doenças oculares, o que inclui a SVC [12-15]. Nesse contexto, um estudo verificou os efeitos da astaxantina na saúde visual de trabalhadores expostos à tela de computador por mais de 6 horas/dia. Após a ingestão de astaxantina AstaReal® (9mg/dia; 4 semanas), houve uma melhora de aproximadamente 16% na habilidade da acomodação ocular, uma vez que o carotenoide, por otimizar a circulação sanguínea, aumenta o suprimento de nutrientes para os olhos, bem como possui efeito protetor nos músculos ciliares contra danos oxidativos [16]. Além da astaxantina, outros antioxidantes como a luteína e a zeaxantina também têm se mostrado promissores para a saúde ocular, especialmente quando utilizados juntos [18-20].
Além da suplementação nutricional, existem outros meios de diminuir os sintomas da SVC, como a simples mudança de alguns hábitos. Manter a iluminação adequada e a postura correta da coluna, através do ajuste da altura do monitor, da mesa, e da cadeira, são medidas efetivas. Além disso, recomenda-se realizar pausas de pelo menos cinco minutos após cada hora trabalhada, aproveitando este intervalo para se movimentar e alongar os músculos, bem como mudar o foco da visão para que os olhos também tenham uma folga. Por fim, sempre que possível, procurar um oftalmologista para acompanhamento é fundamental.
Produzido por: Pietra S. Prado, BSc e Ana Carolina R. Souza, PhD
Referências
1. Cetic BR. Painel TIC COVID-19: Pesquisa sobre o uso da internet no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. 3ª edição: Ensino remoto e teletrabalho ed2020: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20201104182616/painel_tic_covid19_3edicao_livro%20eletr%C3%B4nico.pdf.
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