Um estudo recente publicado em parceria com pesquisadores brasileiros concluiu que a ingestão diária de alimentos ultraprocessados, acima de 20% do total energético, está associada ao aumento do risco de declínio cognitivo em idosos e adultos de meia-idade1. O artigo publicado na renomada revista JAMA Neurology faz parte do estudo Elsa-Brasil (Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto), que avaliou, durante 8 anos, cerca de 11 mil pessoas das principais capitais brasileiras2. Os participantes foram avaliados quanto ao seu consumo alimentar, por meio de um Questionário de Frequência Alimentar, e de testes cognitivos abrangendo os domínios de memória, fluência verbal, dentre outros1.

 

Os alimentos processados ou ultraprocessados, são alimentos industrializados categorizados de acordo com o seu grau de processamento. Geralmente, são fontes alimentares com baixo valor nutricional e alto valor calórico, carregados de quantidades altas de sódio, açúcar, gordura, e aditivos, como biscoitos, comida congelada, salgadinhos, refrigerantes, fast foods, etc.

 

Esses alimentos são bastante comuns no dia a dia e estão associados ao maior risco de desenvolvimento de problemas de saúde já bastante conhecidos, como obesidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. Com essa nova publicação, um novo prejuízo é adicionado a lista: o risco de declínio cognitivo, que é a perda da capacidade do cérebro de realizar tarefas diárias e processos cognitivos como memória, atenção e capacidade de aprendizado2.

 

De acordo com o estudo, 20% da ingestão diária, baseada numa dieta de 2000 calorias por dia, equivale a cerca de 400 calorias, um valor facilmente atingível quando analisado o valor calórico desses alimentos industrializados1. O consumo acima desse percentil resultou em um declínio 28% mais rápido na função cognitiva global e 25% na cognição executiva, quando comparado com pessoas que consumiram menos que 20% de alimentos processados1. A função cognitiva global compreende as habilidades do cérebro relacionadas a todas as funções cognitivas, de memória, de fluência verbal e da função executiva, já a cognição executiva compreende as habilidades de planejamento, execução de tarefas e resolução de problemas2.

 

Ao Jornal da Universidade de São Paulo (USP), uma das autoras explica que o processo de declínio cognitivo acontece naturalmente com o envelhecimento, no entanto, o que foi constatado no estudo é que esse processo pode ser acelerado nessas circunstâncias, inclusive, em indivíduos jovens, na casa dos 35 anos2. Este achado é de extrema importância pois alerta sobre os riscos independente da faixa etária. A pesquisadora faz ainda uma ressalva, de que a faixa etária dos 35 anos é justamente a fase mais importante na prevenção de doenças neurodegenerativas, que apesar do senso comum, tem início bem antes da apresentação dos sintomas na velhice2.

 

Estes resultados não são novidade no mundo médico, um estudo anterior conduzido com 72.083 adultos acima de 55 anos, verificou uma associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e um maior risco de demência e doença de Alzheimer, após 10 anos de acompanhamento da população no Reino Unido3.

 

O Brasil não lidera a lista de países com maior consumo de alimentos processados. Na verdade, de acordo com estudos desenvolvidos pela Universidade de São Paulo, o grupo de alimentos ultraprocessados constitui 30% da ingestão total de calorias consumidas pela população brasileira1. Na população estadunidense, por sua vez, isso corresponde a 58% das calorias totais, 57% na população britânica e 48% na população canadense1.

 

Por fim, a dica é tentar fugir de alimentos processados no dia a dia, e optar por comidas frescas sempre que possível, mesmo que isso custe mais tempo e esforço do seu dia. A prevenção é sempre o melhor tratamento. O artigo original pode ser acessado através do site da revista JAMA Neurology, e a matéria completa na página do Jornal da USP.

 

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

 

Referências:

  1. Gomes Gonçalves N., Vidal Ferreira N., Khandpur N., Martinez Steele E., et al. JAMA Neurology. 2023;80(2):142-150.
  2. Ferreira I. 2022; Jornal da USP:https://jornal.usp.br/ciencias/consumo-excessivo-de-alimentos-ultraprocessados-aumenta-o-risco-de-declinio-cognitivo/.
  3. Li H., Li S., Yang H., Zhang Y., et al. A Prospective Cohort Study. 2022;99(10):e1056-e1066.

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