Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é um espectro da doença caracterizado por esteatose hepática quando nenhuma outra causa para o acúmulo secundário de gordura hepática (por exemplo, consumo excessivo de álcool) pode ser identificada. A DHGNA varia desde formas mais leves como fígado gorduroso não alcoólico (FGNA) até formas mais graves como a esteatohepatite não alcoólica (EHNA), que está no extremo mais grave do espectro, além de poder evoluir para fibrose avançada, cirrose e insuficiência hepática. Na DHGNA, a esteatose hepática está presente sem evidência de inflamação, enquanto na EHNA, a esteatose hepática está associada a inflamação lobular, balonização de hepatócitos e apoptose que pode levar à fibrose e à cirrose1.

 

A DHGNA pode ser dividida em dois tipos, sendo que o primeiro tem uma estreita relação com distúrbios metabólicos e o segundo, está associado com patologias infecciosas que podem levar à ocorrência de esteatose hepática, como hepatite C e HIV, mas também está relacionada a medicamentos como glicocorticoides, tamoxifeno, tetraciclina, entre outros ou processos metabólicos herdados ou adquiridos1.

 

A DHGNA apresenta como fatores de risco o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), a síndrome metabólica (SM), a resistência insulínica (RI), a obesidade, a dislipidemia, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e os fatores genéticos. A DHGNA evolui sem complicações hepáticas na maioria dos pacientes, estando associada principalmente a desfechos cardiovasculares desfavoráveis. Cerca de 20% dos pacientes evoluem com EHNA, apresentando risco de fibrose, de cirrose e suas complicações, podendo levar à insuficiência hepática e até mesmo ao carcinoma hepatocelular1. O diagnóstico da DHGNA é definido mediante uma biópsia hepática podendo indicar a deposição de triglicerídeos como gotículas no hepatócito1.

 

A DHGNA é, atualmente, a doença hepática crônica mais comum em todo o mundo. Segundo um estudo recente, a prevalência global da DHGNA aumentou de 25,3% em 1990-2006 para 38,0% em 2016-2019. Paralelamente, a EHNA, está emergindo como uma das principais causas de cirrose, de complicações cirróticas, de carcinoma hepatocelular (CHC) e de morte relacionada ao fígado. A EHNA também é a indicação de transplante de fígado que mais cresce nos Estados Unidos, ultrapassando assim, as doenças hepáticas associadas ao álcool2, 3.

 

As razões para esta tendência crescente são multifatoriais, podendo ser explicadas pela urbanização e, principalmente, pelos hábitos alimentares pouco saudáveis ​​​​associados ao estilo de vida sedentário. Adicionalmente, a prevalência da DHGNA aumenta com o avançar da idade, particularmente em mulheres na pós-menopausa. As doenças hepáticas crônicas progridem durante um longo período, o que significa que a doença hepática grave é mais comum em populações mais idosas2, 3.

 

A deposição excessiva de gordura no fígado é reconhecida há séculos.  O termo “esteatohepatite não alcoólica (EHNA)” foi consolidado para descrever a histologia hepática associada ao excesso de gordura hepática na ausência de consumo significativo de álcool. Devido à falta de conhecimento sobre sua base fisiopatológica na época, o termo “não alcoólico” foi derivado de semelhanças nos achados histopatológicos desses pacientes comparados com aqueles com doença hepática relacionada ao álcool4.

 

No entanto, desde a introdução do termo “doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA)”, o uso de “álcool” carrega consigo um estigma significativo, o qual se sobrepôs ao diagnóstico de DHGNA sendo prejudicial na discussão da doença com pacientes pediátricos e com pacientes muçulmanos praticantes. Somado a isso, a necessidade de haver novas formas de diagnosticar a DHGNA, tem incentivado discussões entre os médicos sobre a mudança do nome para melhor refletir o processo da doença e estender a terminologia além das semelhanças histopatológicas superficiais com a doença hepática relacionada ao álcool.  Assim, em 2020, houve um consenso que atualizou o termo DHGNA para “doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica” ou “Metabolic associated fatty liver disease (MAFLD)”4.

 

Além da mudança de nome, o consenso também atualizou o diagnóstico da doença. O critério para MAFLD utiliza o padrão para esteatose hepática, mas identifica fatores desreguladores metabólicos como um pré-requisito para que o diagnóstico seja considerado, como diabetes mellitus tipo 2,  sobrepeso/obesidade, síndrome metabólica, circunferência da cintura, pressão arterial, triglicerídeos plasmáticos, colesterol-lipoproteína de alta densidade plasmática, pré-diabetes, avaliação do modelo de homeostase do escore de resistência à insulina e proteína C reativa plasmática de alta sensibilidade. A combinação de esteatose hepática com uma dessas três estratificações de risco metabólico resulta no diagnóstico de MAFLD. Assim, a MAFLD não está relacionada com a presença ou ausência de outras causas de doença hepática4

 

Portanto, os critérios para MAFLD têm como objetivo aumentar o reconhecimento e a compreensão fora dos especialistas em gastroenterologia e hepatologia, e permitir que os profissionais de saúde iniciem o tratamento de forma mais precoce. Além disso, adotar hábitos alimentares e de estilo de vida saudáveis são de extrema importância a fim de evitar não só as doenças hepáticas, como também, diversas outras doenças.

 

Referências:

  1. Pouwels S, Sakran N, Graham Y, Leal A, Pintar T, Yang W, et al. BMC Endocr Disord. 2022;22(1):63.
  2. Wong VW, Ekstedt M, Wong GL, Hagstrom H. J Hepatol. 2023;79(3):842-52.
  3. Devarbhavi H, Asrani SK, Arab JP, Nartey YA, Pose E, Kamath PS. J Hepatol. 2023;79(2):516-37.
  4. Gofton C, Upendran Y, Zheng MH, George J. Clin Mol Hepatol. 2023;29(Suppl):S17-S31.

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