A colina é um nutriente essencial para o desenvolvimento infantil. Sua importância para o bebê vem antes do nascimento, já na gestação. Este nutriente é crítico para uma série de processos fisiológicos que ocorrem no bebê durante o período pré-natal, como a produção de células, o desenvolvimento do cérebro, a comunicação entre os neurônios e o controle da expressão de genes.
No brasil, a ANVISA recomenda que as gestantes consumam 550 mg de colina diariamente. Entretanto, as gestantes estão entre os grupos de risco de deficiência de colina: estima-se que 90 a 95% das mulheres grávidas consomem menos colina que o recomendado. Além disso, os suplementos pré-natais geralmente contêm pouca ou nenhuma colina. Portanto, acredita-se que as gestantes e seus bebês podem se beneficiar do aumento do consumo de colina por meio da dieta ou da suplementação nutricional.
Vale notar que a importância de garantir a ingestão adequada de colina durante a gravidez é cada vez mais reconhecida por órgãos internacionais. Em 2017, a Associação Médica Americana (American Medical Association, AMA) publicou uma nova recomendação afirmando que os suplementos vitamínicos pré-natais devem conter quantidades de colina “baseadas em evidências”.
Diversos estudos com gestantes forneceram evidências convincentes dos benefícios para o bebê do maior consumo de colina durante o período pré-natal, como descrito a seguir.
Estudos da colina com gestantes e bebês
Um estudo com 154 gestantes saudáveis avaliou a associação entre os níveis de colina nas mães e o neurodesenvolvimento de seus bebês aos 18 meses de idade. Com base em resultados de testes cognitivos das crianças, os autores concluíram que os maiores níveis de colina materna na primeira metade da gravidez estão associados ao melhor desenvolvimento cognitivo dos bebês.
Da mesma forma, outro estudo com 26 gestantes também comprovou o efeito da colina na melhora da cognição do bebê. Os pesquisadores encontraram uma relação entre níveis mais altos de ingestão materna de colina (930 mg por dia) e a maior velocidade de processamento de informações pelos lactentes, em comparação com bebês de mães que consumiam 480 mg por dia do nutriente.
Além disso, um estudo recente indicou um efeito benéfico de longo prazo da suplementação pré-natal de colina na cognição do bebê. Crianças cujas mães consumiram 930 mg (versus 480 mg) de colina por dia tiveram um desempenho significativamente melhor em uma tarefa de memória de localização de cores aos 7 anos de idade.
Outros dois estudos com mais de 70 gestantes também relataram um melhor desenvolvimento da atenção nos bebês com 5 semanas de idade, e redução de problemas de atenção e retraimento social aos 40 meses de idade com a suplementação de colina para a mãe a partir do segundo trimestre da gravidez, e também para o bebê após o nascimento.
Em outro estudo com gestantes, a análise de amostras de sangue do cordão umbilical do bebê mostrou que o maior consumo de colina durante o terceiro trimestre de gravidez (930 mg versus 480 mg) ajuda a reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no bebê. O estresse está associado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças, como hipertensão, diabetes tipo 2, distúrbios imunológicos e até mesmo a depressão. Assim, as crianças com menores níveis de cortisol ao nascer podem ter menor probabilidade de desenvolverem doenças mentais e cardiometabólicas mais tarde na vida.
É importante notar que níveis mais baixos de colina durante a gravidez estão associados a um risco aumentado de má formação do bebê, relacionada a defeitos do tubo neural e fenda orofacial, o que enfatiza ainda mais a necessidade de níveis adequados deste nutriente essencial na gestação.
Considerações finais
Em suma, a suplementação com colina durante a gestação se mostrou benéfica para o bebê: diversos estudos mostraram que suplementar a dieta materna com colina adicional melhora vários desfechos da gravidez e beneficia a cognição do bebê, além de protege-lo contra danos neurais e metabólicos.
Além do mais, os estudos descritos indicam que as recomendações atuais para a ingestão diária de colina podem não ser suficientes para promover o desenvolvimento cognitivo ótimo do bebê.
Estas recomendações atuais baseiam-se nas quantidades de colina necessárias para prevenir a disfunção do fígado (um órgão altamente dependente de colina) e foram extrapoladas de estudos com homens, em parte porque nenhum estudo investigou a fundo as necessidades do nutriente durante a gestação.
Portanto, dada sua clara importância no desenvolvimento do bebê e na saúde materna, gestantes devem garantir o consumo adequado de colina. Converse com seu nutricionista sobre como otimizar o consumo de colina através da dieta e consulte seu médico sobre a necessidade de tomar um suplemento com colina durante o pré-natal para assegurar a ingestão adequada do nutriente.
Produzido por: Andrea Rodrigues Vasconcelos, PhD.
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