Sabe aquela sensação de cansaço mental no final do dia? Que você sente que não está mais produtivo e não consegue mais pensar direito? Saiba que isso não é pura e mera preguiça, mas sim uma resposta fisiológica do seu cérebro para te proteger. De acordo com um estudo recente publicado pela universidade francesa Pitié-Salpêtrière, pensar demais intoxica o cérebro, ocasionando alterações significativas na fisiologia cerebral.

 

A fadiga mental causa prejuízos diretos no rendimento da função cognitiva, que inclui a capacidade diminuída de foco, memória e processamento de informações, por exemplo. Até o momento, acreditava-se que a fadiga mental era um processo mental e não fisiológico. Dessa forma, o objetivo deste novo estudo foi examinar, justamente, a correlação entre as funções neurometabólicas e o processo de tomada de decisão em indivíduos submetidos à fadiga mental 1.

 

Quarenta participantes foram submetidos a seis horas de tarefas cognitivas e divididos em dois grupos: o grupo 1, que realizaria tarefas cognitivas mais complexas, e o grupo 2, que realizaria tarefas cognitivas mais leves. Ao final do dia, os participantes foram submetidos a uma espectroscopia de ressonância magnética (RM) no cérebro, a fim de avaliar os metabólitos cerebrais em resposta à fadiga 1.

 

Conforme esperado, o desempenho de ambos os grupos nos testes cognitivos caiu com o passar das horas, resultado do cansaço, com pequenas diferenças no grupo 1, que apresentou um desempenho pior comparado ao grupo 2.

 

Os resultados da RM mostraram que o grupo 1 apresentou um acúmulo de glutamato na região do córtex pré-frontal lateral, parte do cérebro responsável pelo controle da tomada de decisões e memória de trabalho 1. O glutamato é o aminoácido mais abundante do sistema nervoso central, ele atua como um neurotransmissor excitatório e está envolvido nos processos de desenvolvimento neural, plasticidade sináptica, aprendizado, memória, epilepsia, doenças neurodegenerativas, dependência e tolerância a drogas, transtornos do humor, entre outros 2

 

Como podemos ver, o glutamato é importante para a função cerebral, no entanto, quando acumulado, desencadeia um mecanismo de regulação no córtex pré-frontal lateral que satura as sinapses (comunicação entre neurônios), dificultando a ativação dessa área do cérebro, tornando assim, mais difícil o controle cognitivo sobre a tomada de decisões. Esta reação visa proteger o cérebro da intoxicação por glutamato, que pode ser perigoso a longo prazo.

 

Os participantes também foram submetidos a um teste de escolha financeira, que fazia parte da avaliação, servindo como um marcador de fadiga mental. Os resultados deste teste reforçam os resultados da RM, onde os participantes do grupo 1 optaram por escolher, ao final do dia, por atividades que trazem recompensas financeiras menores, mas de curto prazo. Ao passo que os participantes do grupo 2 demonstravam mais autocontrole, e optaram por atividades que trazem recompensas financeiras mais altas, porém de longo prazo 1. Ou seja, essa alteração na área responsável pelo controle da tomada de decisões induz, de forma involuntária, à decisões “menos inteligentes”, que exigem menos esforço cognitivo e recompensas imediatas. É interessante utilizar como exemplo o álcool, que assim como o glutamato, é capaz de inibir o funcionamento do córtex pré-frontal, o que explica os comportamentos impulsivos desencadeados pela embriaguez.

 

A hipótese dos autores é de que esse mecanismo de defesa do cérebro visa dificultar a realização das tarefas cognitivas a fim de interromper a exposição do cérebro ao glutamato já em excesso. Estes resultados são importantes pois comprovam que a fadiga mental é de fato um processo fisiológico, não apenas mental.

 

Ainda segundo os autores, uma das formas de prevenir esse fenômeno seriam as pausas de descanso, e se possível, dormir. Estes seriam suficientes para reequilibrar os níveis de glutamato no cérebro e normalizar a função cognitiva. Portanto, na próxima vez que for tomar uma grande decisão, certifique-se de que você está realmente descansado e que seu cérebro não está tomando a decisão por você.

 

Produzido por: Pietra Sacramento Prado, BSc.

Referências

  1. Wiehler A., Branzoli F., Adanyeguh I., Mochel F., et al. Curr Biol. 2022;32(16):3564-3575 e3565.
  2. Carobrez A.P. Braz. J. Psychiatry. 2003;25(2).

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